A educação empreendedora pode ser a opção mais viável para os jovens em situação de vulnerabilidade começarem a traçar sonhos e planejar o futuro de forma diferente. Nesse sentido, o papel dos pais, professores e demais gestores das instituições de ensino e do poder público é fundamental para que as ações sejam mais concretas. O engenheiro, ator, roteirista e diretor Helio de la Peña, de 64 anos, conhecido por participar do programa Casseta & Planeta, da TV Globo, foi um dos milhares de exemplos de quem saiu de uma comunidade pobre para chegar a voos mais altos. Ex-morador da Vila da Penha, no Rio de Janeiro, ele atribui à educação os motivos que o levaram à fama. De la Peña comandou a palestra “Me armando de livros me livro das armas” e o stand up “Preto de Neve” durante o Encontro Estadual ALI Educação Empreendedora, iniciativa do Sebrae Minas para celebrar as ações dos dez anos do Programa Nacional de Educação Empreendedora. O ator conversou com a Agência Sebrae de Notícias (ASN) sobre a falta de bibliotecas nas comunidades pobres e a importância da cultura para o crescimento pessoal e profissional dos jovens.
De onde surgiu a inspiração para o título da palestra “Me armando de livros me livro das armas”?
O tema tem a ver com o momento que passamos recentemente, em que o governo deu mais ênfase ao armamento do que à educação. Seria como se as pessoas pudessem se proteger da marginalidade por conta própria sem levar em consideração que os criminosos vêm praticando o manuseio de armas o tempo todo. Enquanto isso, o cidadão compra uma arma, a guarda em um canto da sala e vai usá-la raramente. A grande chance é que essa arma sirva para reforçar o arsenal do bandido que eventualmente roubar essa casa e leva-la consigo. Por outro lado, o livro é um patrimônio que vai te dar capacidade, formação e chance de você ter algo melhor que amplia as possibilidades de crescer. A formação de qualidade pode levar o jovem da periferia a uma boa vida.
Você nasceu na Vila da Penha, no Rio de Janeiro, e passou por muitas dificuldades antes de se formar em Engenharia. Como essa paixão pela educação possa inspirar os jovens de hoje?
Tive uma vida modesta, mas não passei fome. Fui alguém humilde e as oportunidades e condições foram inferiores aos que meus filhos tiveram depois. De qualquer maneira, sempre vi a educação como uma saída. Comecei a perceber que uma das razões pelas quais minha vida deu certo foi o acesso à informação, ao conhecimento, formação boa. Isso foi graças à visão dos meus pais de que a educação poderia ser a saída para uma vida melhor. Tento hoje passar para as pessoas, por meio do meu trabalho, que isso pode gerar consequências positivas para outras pessoas de baixa renda, que não têm oportunidades melhores.
Você um dos participantes do movimento Favelivro, movimento que busca difundir arte, educação e cultura nas favelas cariocas. Como você vê o acesso à cultura das pessoas mais vulneráveis nas comunidades?
O acesso sempre foi bastante precário. Algumas poucas favelas dão a chance de a pessoa ter o acesso a uma biblioteca comunitária e a um trabalho social realizado, mas é muito pouco pela grande quantidade de moradores das favelas. São poucos os que têm oportunidades de ter uma educação de qualidade, acesso aos livros. Isso só aprofunda o fosso social que distancia a população da favela daquela que vive nos bairros melhores. Esse movimento é uma chance de podermos equilibrar essa questão e levar aos mais pobres um pouco de arte e cultura, por meio de ações concretas, bibliotecas e atividades literárias em comunidades e escolas públicas do Rio de Janeiro.
Em seu stand up Preto de Neve, você conta a história de um proprietário negro de um condomínio nobre do Leblon no Rio de Janeiro utilizando sátiras e ironias. Qual a principal ideia a ser passada ao público?
A ideia é mostrar que há diferenças enormes nas oportunidades, sobretudo nas grandes cidades. Eu me coloco em uma condição privilegiada, mas que ainda é exceção. Poucos negros tiveram as mesmas possibilidades que eu tive. Esse retrato que trago para o show de ser um único negro em um condomínio de 100 casas mostra bem a diferença da vida entre negros e brancos em nossa sociedade.
A difusão da educação empreendedora depende de políticas que defendem mais igualdade e acesso às tecnologias e às escolas de qualidade?
Acredito que sim, pois é uma possibilidade que se abre para as pessoas. Elas podem ter um alcance e um padrão de vida melhor a partir de uma formação mais qualificada. O governo tem mais ferramentas para proporcionar esse tipo de empreendimentos. As ações sociais ou em pequenos grupos normalmente têm um alcance menor. Em contrapartida, o poder público pode ter uma ação que se estenda por todo o nosso país. Desta forma, se o governo tiver esse tipo de preocupação e ela for posta em prática, temos mais chance de êxito. Todas as ações do estado dependem de muitas etapas e pessoas, mas tem algumas mal-intencionadas. Algumas se preocupam em como se dar bem individualmente, em casos de corrupção, do que fazer algo coletivo para a sociedade.
Fonte: SEBRAE
Escritório de Contabilidade em São Bernardo do Campo. Abertura de empresa é com a contabilidade Dinelly. Clique aqui