“Quem diria que um dia nós íamos falar para o mundo?”. A pergunta é da quebradeira de coco babaçu Maria Leonarda Brandão, de 59 anos, ao relatar a luta diária com a quebra manual da matéria-prima que abastece o município de Coroatá (MA), localizado a 251 quilômetros de São Luís. Na região, rica em cocais, 32 famílias conheceram novas utilidades do babaçu após a iniciativa da Apoena, uma startup que compra o coco in natura das comunidades e trabalha a mecanização do produto, a fim de gerar renda, qualidade de vida às quebradeiras e maior produtividade.
Há seis anos, as quebradeiras do povoado Centro do Chico, em Coroatá, trocaram o trabalho árduo de quebra manual do babaçu pela coleta e venda do coco inteiro para a indústria. O resultado foi a otimização do serviço e a maior lucratividade.
A dificuldade nossa era muito grande no mato para passar o dia inteiro quebrando coco no sofrimento para ganhar muito pouco pelo quilo da amêndoa limpa. A gente só juntando e entregando o coco inteiro para a fábrica é muito melhor. Nós conseguimos produzir e ganhar mais.
Antônia Raimunda Honorato, quebradeira
Até quem trabalha na diária com outros serviços também se beneficia, agora, com a coleta do babaçu nos terrenos. “Aqui, raramente, aparece uma semana para ter duas, três diárias. E com essa renda dos cocos, no decorrer do mês, eu pego uma renda boa. Dá para pagar alguma conta, comprar algum alimento para dentro de casa, e desafogou mais”, contou o lavrador Antônio da Silva Silveira.

Da matéria-prima que antes se retirava apenas a amêndoa, hoje é possível aproveitar o epicarpo, uma fibra externa capaz de produzir adubo, carvão e outras fontes de energia, e o mesocarpo, que dá origem a produtos como farinha, cosméticos e biocombustíveis. Tem também o endocarpo, a terceira e mais dura camada do babaçu, que se transforma em carvão ativado, produto utilizado no tratamento de desconfortos abdominais e na filtração de água.
A indústria também produz o óleo e o tradicional azeite de coco babaçu a partir da quebra mecanizada. O projeto começou a partir da iniciativa da empresária Márcia Werle, que enxergou no coco babaçu um potencial de mercado e também fonte de renda para as comunidades tradicionais da Região dos Cocais, no Maranhão. “A pessoa que me apresentou o coco mostrou a nobreza dele e disse que daria para se produzir vários produtos a partir dele. Ela falou que desse coco, de onde só aproveitava 6%, que era a amêndoa”, disse Márcia.
A empresária conta que, sabendo que milhares de mulheres dependem dessa fonte de renda para criar e educar os filhos, resolveu fazer uma parceria para encontrar uma alternativa mecanizada que pudesse quebrar e separar esse coco. “A experiência que a gente tem trabalhando com as comunidades e conversando com elas, em um dia, elas conseguem coletar uma tonelada de coco, e isso representa uma boa renda”, acrescentou a empresária.

Desde o início das operações, em 2019, a empresa já processou mais de 268 toneladas de coco babaçu. Por meio da extração da matéria-prima, a Apoena comercializa óleo corporal, óleo extravirgem, massa de babaçu, bebida Aroma da Floresta e o bioativo para diesel. A venda é feita principalmente por meio da internet. A startup participou dos programas de aceleração Inova Amazônia e Inova Cerrado, promovidos pelo Sebrae. Além disso, recebe soluções do Sebraetec e realiza a exposição dos produtos em feiras nacionais. Hoje, a empresa emprega 10 pessoas e 32 famílias fornecedoras do babaçu.
“Já trabalhamos o desenvolvimento de embalagens, onde eles puderam ter um especialista ajudando a desenvolver a arte e a identidade visual nas embalagens para os produtos, trabalho de acesso ao mercado, onde eles puderam expandir e ter acesso a investidores e novos mercados, para desenvolver todos os segmentos da empresa”, disse Stênio Pinheiro, gerente regional do Sebrae em Caxias (MA).

O babaçu na COP30
O modelo de negócio construído no povoado Centro do Chico revela o alto potencial da bioeconomia no Maranhão. De acordo com a Embrapa, o estado tem cerca de 8 milhões de hectares de coco babaçu e é a unidade da federação que tem a maior população vivendo da extração do fruto. Com a exposição dos produtos extraídos dos cocais, as quebradeiras e a Apoena apresentarão para o mundo a riqueza do coco babaçu na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), com o objetivo de buscar parcerias e incentivar a economia sustentável.
O produto de destaque da Apoena em exposição na COP30 será o bioativo para diesel, que é um aditivo natural desenvolvido a partir dos compostos do coco babaçu. Ele foi produzido para ser misturado ao óleo diesel e pode ser utilizado em operações industriais de baixo custo, como geradores e maquinário pesado. De origem vegetal e renovável, o produto é obtido por meio de um processo sustentável e de baixo impacto ambiental. Ele melhora o desempenho do diesel, promove maior eficiência na combustão, redução do consumo de combustível em até 15% e diminuição das emissões de CO2.
O produto é utilizado pela Apoena de forma experimental em fazendas. Nessa fase, estão sendo fechados os primeiros contratos de venda. “Vamos mostrar todo o potencial do babaçu e dos nossos produtos, em especial, o bioativo para diesel. É uma oportunidade para que as pessoas conheçam o nosso produto em que colocamos o babaçu como um bioativo da Amazônia, que faz a diferença na redução de mudanças climáticas”, ressaltou o diretor de produtos da Apoena, Marco Antônio Silva.

Contribuição local
A renda gerada pelo babaçu é vista com bons olhos em Coroatá. Com o destaque conquistado pela indústria do fruto, agora mecanizada, a expectativa é que o município colha bons resultados na economia. “Eu tenho certeza que todos esses produtos, a partir da comercialização, com a indústria sendo aqui, vai gerar renda, fomentando a economia, e isso é muito legal para trazer desenvolvimento para nossa cidade”, disse a secretária municipal de Indústria e Comércio, Jaciara Póvoa de Sousa.
A quebradeira de coco Maria Leonarda observa a importância da contribuição de toda a sociedade no incentivo à bioindústria. O trabalho começa com a preservação dos cocais e a proteção ao meio ambiente. “A gente está vendo, andando por esses lugares assim, que as coisas estão ficando mais difícil, porque a gente só vê o pessoal desmatando tudo. Eu espero que eles entendam que não é destruindo as coisas que vão para frente. Eles realmente têm que cuidar para a gente ter um futuro melhor”, disse.
Fonte: SEBRAE
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