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No passado, durante milênios, praticamos o escambo como única forma voluntária de exercer trocas econômicas e com isso ampliar o nosso bem-estar material, já que, pensando na economia como um todo, dificilmente seria possível que todos produzissem individualmente tudo o que queriam para viver.

Dependíamos muito de nossa memória e de uma forma menos institucionalizada de honestidade por parte dos outros, por não haver qualquer meio de comprovação pública e formal do quanto ofertamos aos demais ou de quanto eles nos deviam. Não havia tecnicamente a quem recorrer se algo fugisse do combinado, pois não existia como.


Se eu te desse 2kg de carne e você me prometesse 1 dúzia de ovos em troca na semana seguinte, do ponto de vista “tecnológico”, seria uma responsabilidade integralmente nossa e de mais ninguém cumprir as exigências necessárias para que o trato fosse respeitado. Além disso, o universo de possibilidades era extremamente limitado, pois seria muito complicado para nós trocar os débitos de uns pelos dos outros, como fazemos sem nem sequer perceber hoje em dia.

De forma racional e substancialmente espontânea, diferentes formas de dinheiro emergiram ao longo da história. Quase sempre, as características que destacavam esses bens dos demais para que fossem usados como boas moedas variavam um pouco, mas havia uma boa interseção entre essas qualidades presentes neles, aparecendo sempre alguns destes fatores: portabilidade, fungibilidade, durabilidade, alcance, aceitação, e outros. E assim evoluímos usando sal, conchas, pedras gigantes, metais preciosos etc.

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Esses materiais, então meios de troca, permitiam uma forma de contabilidade e de verificação pública do débito que uns tinham com os outros. Se eu tivesse 2g de ouro sob minha posse, tratava-se de uma representação socialmente aceitável de que prestei um favor a alguém para ter obtido aquilo, seja na forma de um serviço ou de cessão de um bem. Passávamos a uma nova era da civilização, já que não apenas os ganhos de eficiência econômica eram imensos, por tudo se tornar muito mais fácil e, logo, passível de cumprimento por todas as pessoas com custos bem menores de transação, mas também porque as fronteiras de cooperação econômica se ampliavam drasticamente. Os limites de pessoas com quem essas trocas voluntárias poderiam ocorrer eram dados exclusivamente pelo alcance material e social de aceitação da moeda que você possuía. Ou, trocando em miúdos: na busca por maiores níveis de bem-estar material, passamos a ter acesso a tudo aquilo que era produzido por quem aceitasse o meio de troca que tínhamos em mãos, fosse sal, ouro ou outro.

Se analisássemos a qualidade que, dentro dessa série histórica dos últimos 50 mil anos de humanidade, esteve invariavelmente presente em todas as formas naturais de dinheiro, chegaríamos à conclusão de que se trata da escassez. Embora variem quanto aos outros fatores que citei acima, nenhum bem poderia ser usado como meio de troca se não fosse naturalmente escasso, comprovadamente limitado. Se essa característica não estivesse presente, seria como se alguém pudesse criar do nada, arbitrariamente, um favor que você devesse a ela, sendo que esse débito jamais teria existido originalmente. Por meio dessa falsificação, você enganaria todo o sistema e o tornaria inválido para toda a sociedade.

Há certo tempo, por uma questão de praticidade e segurança, em vez de utilizarmos algum desses materiais, como notadamente foi feito com o ouro por milênios, adotamos o papel-moeda. No começo dessa história toda, ele era basicamente a representação oficial em papel de quanto do ouro em poder dos bancos (ou agentes com funções análogas) pertencia a você. No entanto, desde a década de 70, dentro de uma dada conjuntura, essa amarra da quantidade de papel-moeda (e, mais tarde, dos diversos “agregados monetários”), que o obrigava a existir sempre de forma escassa, precisamente por corresponder de modo direto à quantidade de algo (como o ouro) que não poderia ser criado do nada, foi totalmente abandonada.

Desde então, a quantidade de dinheiro e crédito disponível no mercado esteve inevitavelmente sujeita a fatores políticos. Sucessivos governos, operando de forma nem sempre clara a partir de seus respectivos bancos centrais junto aos bancos comerciais, vêm inflando esses valores ano a ano. Quando num determinado intervalo eles irresponsavelmente injetam um percentual maior de dinheiro (e crédito) na economia do que aquele representado pelo aumento na produtividade do país, o resultado é inflação. Analogamente, a partir de minha metáfora inicial, o resultado é que um dinheiro não escasso permite que se crie do nada um favor que certo cidadão deve ao governo e/ou ao agente a quem ele entrega as novas unidades recém-geradas.

Sem que tenham feito qualquer coisa para tal, alguns agentes da economia são explicitamente prejudicados por esse débito imposto a eles na marra, enquanto os detentores do novo dinheiro obtêm um privilégio injusto. Isso por conta da impossibilidade que os preços sejam instantaneamente ajustados; ou seja, não é possível que a economia de um país inteiro se ajuste no curto-prazo à nova quantidade de moeda em circulação, o que faz com que quem receba o dinheiro primeiro consiga gastá-lo de forma legítima sem que a alta de preços resultante da inflação da base monetária tenha ocorrido ainda.

Em 2008, motivado por gente ciente desse processo – e crítico dele, especialmente por conta das crises sistêmicas e da instabilidade permanente que o uso de moedas sujeitas à manipulação política gera, surge um experimento voltado a se tornar uma alternativa voluntária a tudo isso, viabilizado com o trabalho econômico e computacional de Satoshi Nakamoto. A partir de então, o Bitcoin, cuja gestão não está ligada a qualquer governo ou empresa, mas apenas aos próprios usuários do sistema que rodam o software em seus computadores ou celulares, tem se fortalecido como a tecnologia mais revolucionária desde a emergência da internet comercial. Isso por ser uma moeda digital com a escassez fixada em 21 milhões de unidades, protegida de fraudes e manipulações por meio do uso de criptografia de nível militar, com transações baseadas em taxa incrivelmente baixas (ou até mesmo gratuitas), imune à inflação em sua base monetária, a controles de capitais, confiscos ou censura por regimes autoritários. Conceitualmente, o Bitcoin é o retorno descentralizado e inviolável a uma das principais ferramentas responsáveis boa parte da prosperidade material humana que atingimos até aqui; e que nos foi parcialmente tomada nas últimas décadas, sem que muitos tenham se dado conta das consequências catastróficas do que isso tem gerado – e tende a piorar.

Na prática, o Bitcoin tem se estabelecido potencialmente como o ouro digital, acessível a qualquer um que tenha um telefone celular, funcionando sem os custos proibitivos dos bancos ou as limitações de alguns que não querem que mulheres tenham contas bancárias no Afeganistão. É a moeda criada pela internet para a internet. O dinheiro nativo da economia digital, com tudo o que ela já tem e ainda terá a oferecer em oportunidades e prosperidade.

Se quiser conhecer mais sobre as novas possibilidades abertas pelas criptomoedas, acompanhe os eventos públicos promovidos quinzenalmente por nosso projeto Bitcoin Hub. Também recomendamos que veja outra iniciativa que conta com o apoio do ITS: a pioneira websérie BTCemPortuguês, criada para ensinar de forma clara e didática tudo o que você precisa saber para entender e usar o Bitcoin, com novos vídeos lançados a cada semana.

Gabriel Aleixo – BrasilPost

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Fonte: jc fique sabendo