Burocracia no Brasil

Imagine acordar todos os dias com um sócio que não apenas leva uma fatia generosa dos seus lucros, mas também cria regras cada vez mais complexas para você seguir, muda os planos sem aviso prévio e, para completar, ainda parece se orgulhar de sua própria ineficiência. Esse é o Estado brasileiro, o parceiro de negócios que todo empreendedor tem, mas ninguém pediu. Com um sorriso no rosto e um carimbo na mão, ele parece perguntar diariamente: “Bom dia, meu nome é Estado. Como posso atrapalhar a sua vida hoje?”

O Labirinto da Burocracia: Uma Corrida de Obstáculos para Empreendedores

Se empreender no Brasil fosse um videogame, seria daqueles impossíveis de zerar, onde cada fase tem mais obstáculos que a anterior e o chefe final nunca morre. Para abrir uma empresa no país, o empreendedor precisa, em média, de 12 licenças ou inscrições municipais, estaduais ou federais. É como se, para fazer um sanduíche, você precisasse de autorização da prefeitura, do estado, da União, do síndico do prédio e, quem sabe, até do papa.

Quer abrir uma oficina mecânica? Prepare-se para conseguir uma Licença Ambiental Simplificada (LAS) – que de simples não tem nada. Sonha com uma loja de artigos importados? Vai precisar de liberação de despacho aduaneiro, porque aparentemente importar um chaveiro do Paraguai é questão de segurança nacional. E se a ideia é um restaurante em São Paulo, além do básico (CNPJ, Inscrição Estadual, alvará de funcionamento), você ainda precisa do Certificado de Licenciamento Integrado, que reúne licenças da Cetesb, Corpo de Bombeiros e Vigilância Sanitária. É como se cada órgão público fosse um porteiro diferente no mesmo prédio, e cada um quisesse ver seus documentos.

A Carga Tributária: O Leão que Nunca Dorme

Se a burocracia é um labirinto, a carga tributária brasileira é o Minotauro que habita em seu centro. Com uma voracidade digna de um leão faminto, o Estado abocanha 32,3% do PIB em tributos, uma das maiores fatias da América Latina. Para colocar isso em perspectiva, o Brasil cobra mais impostos que Barbados (31,8%), Uruguai (30,8%) e Argentina (30,3%). E o que o contribuinte recebe em troca? Serviços públicos que, em sua maioria, deixam a desejar, para não dizer que são uma piada de mau gosto. É como pagar por um banquete cinco estrelas e receber um pão com manteiga – e a manteiga ainda por cima é rançosa.

Mas não basta pagar muito, é preciso pagar de um jeito complicado. O sistema tributário brasileiro é tão complexo que faria um gênio da matemática chorar em posição fetal. São cerca de 1.500 horas anuais que as empresas gastam apenas para cumprir suas obrigações fiscais. Para ter uma ideia da dimensão dessa loucura, isso é mais de 10 vezes a média dos países desenvolvidos, onde os empresários gastam entre 150 e 200 horas anuais com questões tributárias.

O Cemitério de Empresas: Onde os Sonhos Empresariais Morrem

Com tantos obstáculos, não é de se espantar que o Brasil tenha se tornado um verdadeiro cemitério de empresas. Dados do IBGE de 2024 revelam uma estatística que faria qualquer empreendedor perder o sono: 60% das empresas não sobrevivem após cinco anos. É uma taxa de mortalidade digna de uma tragédia grega, onde os heróis (os empreendedores) lutam bravamente contra forças superiores, mas são inevitavelmente vencidos por um destino cruel e implacável (o Estado).

Para ser mais específico sobre essa carnificina empresarial: das empresas nascidas em 2017, apenas 37,9% estavam ativas após cinco anos. A taxa de sobrevivência vai despencando ano após ano: 76,2% no primeiro ano, 59,6% no segundo, 49,4% no terceiro, 42,3% no quarto, até chegar aos míseros 37,9% no quinto ano. É como assistir a um filme de terror em câmera lenta, onde você sabe que o final não será feliz.

Entre 2020 e 2022, o Brasil perdeu 210.714 empresas empregadoras. Para colocar isso em perspectiva, é como se uma cidade do tamanho de Campinas simplesmente desaparecesse do mapa empresarial brasileiro. E não estamos falando apenas de números frios: cada empresa que fecha representa empregos perdidos, sonhos frustrados e famílias impactadas.

O Brasil no Ranking Mundial: Quando Ser o Último é uma Tradição

Se o Brasil fosse um aluno, seria aquele que sempre fica de recuperação. No ranking mundial de facilidade para fazer negócios, ocupamos a 124ª posição entre 190 economias. Para ter uma ideia de quão ruim isso é, países como Colômbia (34ª), Peru (35ª) e Chile (41ª) estão anos-luz à nossa frente. É como se fôssemos o último colocado numa corrida onde até o cara de muletas chegou antes.

No Índice Global de Inovação, a situação não é menos constrangedora. O Brasil ocupa a 103ª posição na categoria “Instituições”, representando uma queda de 26% em relação a 2020, quando éramos o 82º colocado. É uma trajetória descendente que faria qualquer elevador ter inveja.

Mas o prêmio de “pior desempenho” vai para o ranking de competitividade industrial da CNI, onde o Brasil ficou em último lugar entre 17 países analisados. Último lugar! É como chegar em último numa corrida onde você era o único participante.

Mas, como bons brasileiros, não desistimos nunca. Continuamos a empreender, a inovar e a acreditar que, um dia, o nosso sócio indesejado vai finalmente entender que, em vez de atrapalhar, ele poderia ajudar a construir um país mais próspero para todos. Continuamos a sonhar com um Brasil onde abrir uma empresa seja tão simples quanto abrir uma conta no banco, onde pagar impostos não exija um PhD em matemática aplicada e onde o Estado seja realmente um parceiro, não um obstáculo.

Enquanto esse dia não chega, seguimos em frente, com um sorriso no rosto e um olho no leão, prontos para mais um dia de batalha contra o nosso sócio involuntário. Afinal, se conseguimos sobreviver ao Estado brasileiro, conseguimos sobreviver a qualquer coisa. E quem sabe, um dia, em vez de perguntar “Como posso atrapalhar a sua vida hoje?”, o Estado brasileiro finalmente aprenda a perguntar: “Como posso ajudar você a prosperar?”

Até lá, que Deus nos proteja… e que nossos contadores tenham paciência infinita.

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Contabilidade em SBC é com a Dinelly. Fonte da matéria: Jornal Contábil