Se a obtenção de uma linha de crédito para estruturar um micro ou pequeno negócio não é simples, para empreendedores negros, essa jornada é ainda mais difícil. “Pessoas negras têm três vezes mais dificuldade de acesso a crédito”, afirmou Fernando Soares, gerente do Mover – Movimento pela Equidade Racial, na abertura do encontro ‘Future in Black’, em São Paulo (SP).
A maior conferência de tomadores de decisão negros da América Latina reuniu representantes de órgãos públicos e de grandes empresas ao longo desta quarta-feira (15), para refletir sobre a construção de um país mais dinâmico e justo, em que a população negra esteja inserida social e economicamente de forma plena.
Levantamento do Sebrae indica que 16 milhões de pessoas negras empreendem no Brasil, com faturamento médio mensal de R$ 2,5 mil. Desse montante, apenas 26% já conseguiram acessar algum tipo de crédito.

“A matriz de análise de crédito das instituições financeiras pressupõe garantias e o CEP da residência. Ocorre que mais de 80% da população negra não tem propriedades e a maioria dos endereços é considerada vulnerável, então o score (pontuação) cai”, explicou Eraldo Ricardo dos Santos, gerente adjunto de Diversidade e Inclusão do Sebrae Nacional, demonstrando que o sistema financeiro, mesmo que negue, leva em conta critérios raciais na hora de conceder crédito.
Iniciativa do Sebrae com o BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento no intuito de reverter essa situação resultou no Fundo Garantidor de Investimento (FGI), que cobre até 80% do empréstimo a micro e pequenos empreendedores em caso de inadimplência.
Em parceria com o Mover, o Sebrae também estuda a criação de linhas de crédito exclusivas para pessoas negras. “É necessário que o setor público cobre do setor privado o compromisso com a promoção da equidade racial como condição para a contratação de serviços”, ressaltou Daiesse Jaala, Chefe de Auditoria de Licitações e Contratos da Advocacia Geral da União.
“Foi muito difícil obter crédito, consegui em um banco privado, mas pagando juros altíssimos”, contou Anderson Marcelo, CEO da startup Delivery das Favelas, plataforma de entrega voltada para atender moradores de comunidades.
Criada no Rio de Janeiro em 2021, a empresa surgiu da própria realidade de Anderson que não conseguia que compras online fossem entregues na sua casa uma vez que os serviços tradicionais se negavam a entrar na favela alegando risco de violência. “Em quatro anos de atividade, temos 0% de sinistro”, comemora.
Anderson participou do ‘Future in Black’ a convite do Sebrae, que promoveu a ida de pequenos empreendedores com ideias inovadoras ao evento para divulgarem seus negócios e fazerem novas conexões.
INTENCIONALIDADE – No lounge patrocinado pelo Sebrae, o destaque era o chá de rooibos orgânico, erva sul-africana de sabor similar ao mate com toque mais sutil e adocicado. “O verdadeiro chá se faz a partir da infusão, não se deve ferver. Isso amarga o chá”, explicava Flávia Barbosa, responsável pela degustação e microempresária, há 7 anos no ramo com a Capins da Terra, montando workshops e blends de chá de origem controlada.

“Dificuldades no mercado de trabalho me levaram a empreender. Era isso ou aceitar subempregos, basicamente”, conta a paulista de Ribeirão Preto, que desde o início de sua jornada de ‘charista’, como ela se define, buscou o apoio do Sebrae.
Também contando com o suporte da instituição, a Infleet oferece soluções eficientes para gestão de frota, utilizando tecnologia para reduzir acidentes e diminuir a emissão de poluentes pelos veículos. Criada por quatro colegas do curso de engenharia politécnica da Universidade Federal da Bahia, em 2018, hoje conta com mais de 900 clientes atendidos. “Temos planos de expandir para a América Latina”, disse Vitor Reis, COO e fundador, lembrando da estratégica participação no programa Inovativa em 2017.
No pequeno estande ao lado, Leonardo Souza exaltava o potencial da cultura maker que o seu empreendimento, a Ideia Space, proporciona a alunos do Ensino Médio, ao desmistificar a educação espacial: “O espaço é acessível para todo mundo.”
Como ação de acesso a mercados para mitigar os desafios enfrentados por profissionais negros, bem como de promoção e capacitação de empreendedores que estão em comunidades, a terceira edição do ‘Future in Black’ evidenciou a importância das políticas de ação afirmativa no impacto social das famílias e no progresso econômico do país.
“A gente precisa de ação! No nosso meio não tem meritocracia. Se não tivermos intenção de comprar de pequenos negócios afro, nossa realidade não vai mudar”, clamou o gerente Eraldo dos Santos.
Douglas Vidal, criador do Future in Black, anunciou que em 2026 o evento será uma conferência global, trazendo líderes de mais de 30 países. Além disso, segundo Vidal, foi criado o Instituto com o mesmo nome encontro, como o propósito de transformar executivos negros em líderes influentes.
Fonte: SEBRAE
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