A nova edição da Série Cidadania Financeira, publicação do BC que visa reunir e disseminar conhecimentos de cidadania financeira desenvolvidos no âmbito institucional, traz um estudo sobre endividamento de risco no Brasil, bem como uma análise do perfil socioeconômico desses cidadãos. O trabalho inédito apresenta um panorama dos tomadores de crédito classificados nessa situação a partir de parâmetros objetivos, considerando ainda os fatores idade, sexo, renda e localização geográfica.
Os dados analisados foram extraídos do Sistema de Informações de Crédito (SCR) e são relativos ao período de junho de 2016 a dezembro de 2019. Para esse levantamento, definiu-se como endividado de risco o tomador cuja situação se enquadrava em pelo menos dois de quatro indicadores relacionados a sua situação financeira: inadimplência, exposição simultânea a três modalidades de crédito sem garantia, comprometimento da renda acima de 50% e renda disponível após o pagamento das dívidas abaixo da linha da pobreza (cerca de R$440). O relatório também aborda a diferença entre os conceitos de endividamento de risco e de superendividamento.
A análise mostrou que, de um total de 85,3 milhões de tomadores, 4,6 milhões (cerca de 5,4%) estavam em situação de endividamento de risco no último mês do período de referência. Desse grupo, 4 milhões atendem exclusivamente a dois dos quatro indicadores de risco citados, enquanto os tomadores que atendem a três e quatro indicadores correspondem, respectivamente, a 588 mil e 39 mil pessoas.
“Essa iniciativa faz parte da dimensão Educação da Agenda BC#, sendo uma das ações de apoio ao superendividado. Trata-se de um tema de grande relevância e esse estudo é um passo fundamental para compreendermos melhor o fenômeno do endividamento, por meio da mensuração do endividamento de risco”, destacou Luís Gustavo Mansur Siqueira, chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira. Ele também ressaltou a importância do trabalho para uma melhor compreensão do endividamento de risco pós-pandemia: “Os dados utilizados são anteriores à pandemia de Covid-19, então, esse trabalho poderá, inclusive, ajudar na mensuração dos efeitos da crise, principalmente em relação a essa parcela da população financeiramente mais vulnerável.”
Perfil dos endividados de risco
Em relação ao perfil socioeconômico, constatou-se que o percentual dos endividados de risco aumenta com a idade, atingindo 7,9% da população acima dos 65 anos – quase o dobro do observado no grupo com até 34 anos. Observou-se que o endividamento de risco também é maior na faixa de renda entre 5 mil e 10 mil reais (6,5% do total), o que sugere que os tomadores de renda média estão mais propensos ao fenômeno.
Quanto à distribuição geográfica, há certa predominância do endividamento de risco na região Norte do país, com ápice nos estados do Amazonas (7,7%) e Amapá (7,5%). Todavia, o percentual de endividados de risco do Rio Grande do Sul também chamou a atenção: 6,8%, bem acima do verificado nos outros estados da mesma região (ambos com 4,8%). Isso indica que não há uma correlação clara entre a presença do fenômeno e as características socioeconômicas de um estado, uma vez que o endividamento de risco pode atingir patamares elevados em regiões díspares quanto à renda per capita e ao nível educacional.
Segundo Arnaldo Francisco Vitaliano Filho, também do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira, até então, não havia um levantamento dos endividados de risco no Brasil. “A partir desse estudo, podemos compreender melhor quem são essas pessoas e pensar em ações educativas que visem ajudar os tomadores no uso consciente do crédito e no acesso a serviços financeiros”, explicou.
Lucas Iten Teixeira, coordenador do estudo, destacou a importância do trabalho no direcionamento das políticas públicas sobre o tema: “O processo é longo, mas o primeiro passo foi dado. A partir desse levantamento já podemos pensar em planos de ação e políticas públicas mais efetivas.”
Superendividamento e endividamento de risco
De forma complementar à análise do perfil dos endividados de risco, o relatório traz uma definição de superendividamento. “Essa definição considera elementos objetivos tradicionalmente associados à ideia, como a inadimplência, e incorpora o desconforto material e psíquico experimentado pelo tomador com o endividamento, que têm caráter subjetivo”, esclarece Adriana Medeiros, também do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira. Nesse sentido, o superendividamento é definido como “o resultado de um processo no qual indivíduos e famílias se encontram em dificuldade de pagar suas dívidas a ponto de afetar seu padrão de vida de maneira relevante e duradoura”.
De acordo com a publicação, o superendividamento se diferencia do endividamento de risco porque o primeiro leva em consideração fatores que extrapolam os dados do BC, como por exemplo contas de água, luz e telefone, além de aspectos subjetivos de desconforto causado pelas dívidas, enquanto o segundo considera aspectos objetivos de uso do crédito, capturados pelo SCR. Segundo os autores, analisar a percepção subjetiva do endividado é fundamental para compreensão plena do fenômeno do superendividamento.
Saiba mais
Para conhecer o estudo sobre o perfil dos endividados de risco no país e entender melhor o conceito de superendividamento, acesse a nova edição da Série Cidadania Financeira.
Por Banco Central do Brasil
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Fonte: Contabilidade na TV
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