Em 2017, a consultoria Spencer Stuart, divulgou algumas tendências e práticas de governança na terceira edição do Brazil Board Index. O foco da pesquisa foi a composição do Conselho de Administração (CA). Fizeram parte da análise 176 empresas. O que esse estudo mostrou foi que:
- Menos da metade dessas empresas (44,3%) apresentava pelo menos uma mulher em conselhos;
- De acordo com a comparação internacional, as mulheres representam 8,2% do total de membros, uma das porcentagens mais baixas;
- O percentual de conselheiros estrangeiros é de 8,7%;
- O percentual de conselheiros independentes é de 33%, um dos menores, segundo a comparação internacional.
Com a minha experiência de mais de 35 anos no ambiente corporativo e desde 2015 à frente da MORCONE Consultoria Empresarial, que presta, entre outros serviços, a atuação como conselheiro independente, acredito que a diversidade no conselho de administração é uma das pautas mais importantes da atualidade.
A pluralidade de ideias, habilidades, culturas é importante na composição dos conselhos de administração por uma razão simples: fortalece o desempenho do conselho e gera valor aos acionistas e demais partes interessadas.
O que pode acontecer quando as pessoas que compõem o conselho de administração são muito parecidas é o enfraquecimento do seu poder de atuação. As muitas ideias, habilidades e diferenças unidas, além do fortalecimento do desempenho, também ajudam na criação de valor para acionistas em longo prazo.
Em 2017, a State Street Global Advisors, um dos maiores gestores de ativos do mundo, realizou uma publicação com orientações sobre como melhorar a diversidade de gêneros nos conselhos de administração, o que auxiliaria na introdução de um conjunto de variadas habilidades e conhecimentos entre os conselheiros, o que resultaria em melhor desempenho financeiro.
Já em fevereiro de 2018, a BlackRock, realizou uma atualização de diretrizes de voto, declarando que espera que em cada conselho de cada empresa listada, haja pelo menos duas mulheres.
Por que a diversidade ainda é tão complexa para muitas empresas?
Quando se fala na diversidade no conselho de administração, não se pode deixar de mencionar a necessidade da diversidade em todos os processos operacionais e financeiros de uma empresa.
A principal complexidade em torno da diversidade está em fazer com que pessoas diferentes trabalhem juntas, colaborando umas com as outras. Segundo o Índice de Competitividade Global de Talentos, a Suíça está no topo da lista, por favorecer primordialmente a multiplicidade cognitiva entre os seus colaboradores.
Geralmente, as empresas, principalmente no Brasil, buscam por profissionais que atendam aos seus “padrões comportamentais, cognitivos, culturais, etc.”, e essa prática em longo prazo resulta em empresas com pensamento igual, que dificilmente conseguirão inovar.
Essa semelhança de comportamentos e pensamentos pode enfraquecer uma organização. Pessoas com habilidades, ideias e pensamentos diferentes, ajudam no desenvolvimento da empresa, favorecem o processo que envolve a criatividade e inovação e geram um ambiente organizacional rico de ideias sustentáveis.
A diversidade no conselho de administração é fundamental, inclusive, para o processo que envolve a tomada de decisões. As habilidades, pensamentos e ideias são compartilhados em prol do desenvolvimento da empresa.
É claro que pensando na questão prática, pode surgir uma série de problemas devido à convivência entre tantas diferenças, mas essa é uma questão que também envolve maturidade emocional e profissional e que pode ter apoio em uma liderança ativa com cuidado quanto à saúde psicológica da equipe.
Somos, desde a infância, induzidos à convivência entre diferentes, mas no decorrer da vida, vamos fazendo escolhas e nos unindo a grupos que sejam semelhantes a nós. Estar entre os semelhantes é confortável, mas não gera desenvolvimento pessoal.
Valorização de pessoas na governança corporativa
A diversidade no conselho de administração também está relacionada à importância da valorização de pessoas na governança corporativa. Valorizar pessoas também tem a ver com respeitar as suas singularidades.
Se, por exemplo, uma pessoa não se enquadra ao padrão comportamental de uma empresa, mas possui inúmeras habilidades, seria muito mais inteligente por parte dessa organização dar espaço a essa pessoa, para que agregue seus conhecimentos à equipe.
A complexidade quanto à convivência entre seres tão diferentes pode ser trabalhada por meio de debates, reuniões, por meio de acompanhamento por parte da liderança da empresa, mas friso que deve se tratar de uma liderança renovada, baseada no trabalho junto aos colaboradores.
Valorização de pessoas está intimamente ligada à valorização da diversidade. Pessoas são singulares, por isso, deve ser tão importante para a realidade empresarial que haja diversidade entre os colaboradores, sobretudo, diversidade no conselho de administração.
É fundamental unir pessoas de diferentes idades, com diferentes habilidades e vivências, para que lidem diretamente com os processos que envolvem a tomada de decisões nas empresas. Essa diversidade reflete nas muitas perspectivas que podem surgir nas reuniões e essa pluralidade é essencial para o crescimento da organização.
A diversidade no conselho de administração também reflete sobre os acionistas e demais partes interessadas, gerando um impacto positivo, principalmente no que se refere à transmissão de informações.
Segundo definição do IBCG (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), o conselho de administração pode ser tratado como guardião das práticas da Governança.
Acredito que um conceito que promove a pluralidade como é o caso da governança corporativa precisa ser composto por pessoas diferentes, com ideias, pensamentos e culturas diferentes.
As muitas perspectivas graças à diversidade no conselho de administração ajudam a garantir que a empresa atuará dentro da transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Carlos Moreira – Há mais de 35 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria) e CCO (Diretor Comercial e de Marketing).É empresário há mais de 15 anos e sócio e fundador da MORCONE Consultoria Empresarial.
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Fonte: Jornal Contábil
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