No início de 2018, o aumento crescente dos preços de combustíveis desencadeou a greve que paralisou caminhoneiros por mais e 10 dias em todo o Brasil. O acontecimento interrompeu serviços como fornecimento de combustíveis, distribuição de alimentos e insumos médicos, levando o país à beira de um colapso.
De um lado, profissionais autônomos e celetistas reivindicando custos e direitos que dificultam seu dia a dia. Do outro, embarcadores que precisam movimentar insumos, gerar vendas e abastecer pontos de venda com qualidade para o consumidor.
A greve fomentou várias opiniões e discussões sobre o tema, mas depois do episódio, uma conclusão era certa. O embarcador brasileiro não está preparado para lidar com inconsistências no método de trabalho tradicional quando se trata de transportes.
Paralisação de 2018
Na paralisação geral dos caminhoneiros em 2018, os prejuízos para os embarcadores brasileiros foram incalculáveis. A falta de abastecimento não foi a única vilã da história, muitos produtos perecíveis estragaram nas estradas por falta de refrigeramento, grande parte das cargas vivas foram perdidas e indústrias tiveram que parar suas produções por não conseguir escoar suas mercadorias.
Com a crise todos sofreram, uma âncora puxou os indicadores da economia para baixo, as empresas tiveram prejuízos enormes e os produtos tiveram um aumento significativo em seus preços, impactando o bolso do consumidor.
A paralisação deixou uma marca no cenário de transportes, destacando a extrema falta de visibilidade e controle sobre as mercadorias em trânsito. Grandes empresas, apesar de sua potência na economia mundial, se encontravam totalmente incapazes de reagir frente a instabilidade política entre a classe de motoristas e o governo brasileiro.
Um dos principais agravantes deste cenário foram os anos de negligência de uma mentalidade presente no mercado. A logística ainda é vista como um custo operacional e não uma área estratégica de diferencial competitivo. Esse tipo de mentalidade fomenta a falta de investimentos na área, deixando-a exposta com processos manuais e recursos limitados.
O impacto na indústria
Isso desencadeou a maior dor de cabeça para os embarcadores. Com milhares de caminhões em trânsito todos os dias, eles se viam totalmente incapazes de reagir ao cenário. A falta de planejamento dificultou ainda mais a situação, já que não se conseguia prever bloqueios e empecilhos da rota.
Por não ter uma gestão à vista com a posição exata dos caminhões, mercadorias e uma comunicação centralizada, alertar todos os motoristas para para voltassem às plantas ou irem por outra rota se tornou impossível. Mensagens e ligações já totalmente obsoletas na gestão de monitoramento das entregas no cotidiano, durante a grave foram praticamente inutilizáveis, deixando toda a operação dos embarcadores trancada.
Tudo isso poderia ter sido minimizado se os embarcadores estivessem preparados e com ferramentas adequadas nos períodos de pré-greve. Com a posição exata dos veículos, seria possível elaborar um planejamento para minimizar os impactos da greve.
Outro ponto que aferiu ainda mais as equipes de logística, foi a retomada das operações após os 11 dias incessantes de paralisação. A greve havia mudado totalmente as prioridades dos caminhões que estavam em rota. Muito deles necessitavam ir para destinos diferentes do que haviam recebido quando saíram das plantas.
Para embarcadores que não possuíam controle em rota, esse processo não era possível. Por isso, foi necessário esperar os caminhões retornarem aos destinos combinados antes da greve para que fossem tomadas novas medidas.
Após a greve, a expectativa dos especialistas na área era de que o mercado percebesse a grande fragilidade que o transporte brasileiro possui. A a paralisação desacelerou o crescimento e gerou um prejuízo de 15,09 bilhões de reais na economia brasileira.
Claro, a tecnologia não consegue impedir uma greve de acontecer. Mas é por meio da tecnologia que é possível fazer um planejamento prévio para reduzir os impactos na operação. Com esse aliado extremamente importante é possível dar uma resposta rápida, entendendo quais os caminhões que conseguiram terminar sua rota antes da greve, quais terão que retornar para seus pontos de partida ou mudar sua rota e destino.
Com números tão alarmantes, se esperava uma mudança na mentalidade do mercado quanto ao setor de transporte. Infelizmente isso não aconteceu e muitos embarcadores ainda se encontram com processos manuais, defasados que resultam em custos altíssimos, retrabalho para a equipe e a falta de respostas rápidas em frente a adversidades.
O despreparo dos embarcadores se comprova, após anúncios de uma possível nova paralisação. Com a ameaça de uma nova movimentação da classe por conta de insatisfações políticas e aumentos consecutivos do preço do diesel, as indústrias brasileiras poderão ficar mais uma vez a mercê das decisões da categoria. Resta aos embarcadores procurar ferramentas e recursos tecnológicos que amenizem e auxiliem no controle do cenário de transportes, tanto no dia a dia quanto em cenários atípicos.
* Diego Buchele é head of product na Lincros e especialista em transportes.
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Fonte: Jornal Contábil
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