Por Thatyane Nardelli e Lorena Molter
Comunicação CFC/Apex
Seis mochilas no carro. Duas da jornalista Maria Carolina Santana, de 36 anos, duas da pequena Nina, de seis anos, e mais duas com os lanches do dia. Às 7h, era hora de deixar a filha na escola e seguir para sua rotina. Depois do dia agitado no trabalho, às 18h30, pegava atalhos em meio ao trânsito parado da capital federal para buscar a filha e correr para a aula de natação dela. “Entra no vestiário de salto alto, troca roupa, molha a barra da calça, assiste à aula, e ali mesmo já dava banho, vestia o pijama e seguia para jantar no quiosque de churrasquinho”, conta.
Ao chegar em casa, descansar? Não. Era hora de ter um momento de verdadeira entrega com a filha, conversa, carinho e a responsabilidade de montarem juntas a lancheira do dia seguinte. “Esse carinho da maternidade que, independentemente da velocidade das situações, você precisa dar atenção, fazer as coisas com a criança e ter um tempo bem aproveitado”, reflete Maria.
Mas, em dezembro de 2019, dois meses antes da pandemia da Covid-19 se instalar no país, Maria decidiu deixar a vida agitada em Brasília para viver aquilo que, até então, era um sonho: morar perto do mar, com mais tranquilidade e maior qualidade de vida para ela e Nina. A pequena Vila de Serra Grande, na Bahia (BA), com pouco mais de 8 mil habitantes, onde elas costumavam passar as férias, foi a cidade que a jornalista escolheu para viver. “Tenho a maternidade como uma missão, entendo que educar obriga a gente a ser melhor, porque não adianta só falar, eu preciso fazer para que ela aprenda. Educar é sempre sobre atitudes”, salienta.
Força e ternura
Maria Carolina faz parte das 34,4 milhões de mulheres que chefiam uma família e são responsáveis financeiramente por seus domicílios, conforme revela uma pesquisa, de 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Eu não conheço outra realidade senão a de ser chefe de família: minha mãe era assim e minha avó também”, afirma ela. Os dados apresentados pela pesquisa significam que quase metade das casas brasileiras são chefiadas por mulheres – situação bem diferente da que era vista alguns anos atrás. “Eu sou filha única e venho de uma família de protagonismo feminino. Cresci inspirada, vendo a correria da minha mãe, observando a dedicação ao trabalho que minha avó, que era funcionária pública, tinha. Tenho a sorte de ter mulheres inspiradoras ao meu redor”, revela.
Os planos, ao se mudar para a Bahia, era abrir uma empresa de design de produtos, o que exigia o contato físico. No entanto, com o distanciamento social instalado, os comércios fechados e os pequenos empresários necessitando se adaptar a uma nova rotina, ela decidiu voltar para o marketing digital para ajudar pequenos empreendedores. “Eu comecei a fazer todas as etapas de serviço que antes eu compartilhava com uma equipe e, óbvio, ficou muito mais difícil. Além disso, há o desafio de ser mãe, em um novo contexto, tendo que compartilhar diariamente a minha rotina e acompanhar a da minha filha nos trabalhos da escola e ela se adaptar à minha, entrando em reuniões on-line muitas vezes ao dia”, revela ela.
Os verdadeiros valores
Apesar de vir de uma família sem grandes problemas financeiros, Maria aprendeu o valor do dinheiro cedo. Hoje, ela tenta passar para a filha o quanto comprar vai além de pagar e ter algo. “Acredito muito em educação financeira e, apesar de não ter tido, eu tento mostrar a ela o valor das coisas: se ela já tem uma boneca, eu questiono o porquê dela querer ter outra e sempre tento mostrar que ela pode guardar o seu dinheiro para comprar algo que ela realmente não tenha”, conta.
Responsável unicamente pela educação e pelos gastos da filha, ela se adaptou a uma nova realidade para gerir as finanças da casa. “Eu tive que me reinventar. Criei um guia comercial digital, premiado pelo Sebrae como modelo de negócios necessário durante a pandemia, que ofertava anúncios populares para micros e pequenos empresários, como o senhor do churrasquinho, a moça que vendia bolo na rua e naquele momento não podia mais”, conta Maria. Nesse momento, ela e a ex-sócia começaram a trabalhar com uma modalidade financeira antiga: a troca de serviços, ou o que a gente conhece no ensino fundamental como escambo. “Em vez de cobrar um valor cheio, a gente começou a receber parte desse pagamento em produtos. Fazíamos os anúncios de um mercadinho e recebíamos em compras. Isso alimentava nossa casa e ajudava o empresário a se destacar e a manter seu estabelecimento aberto”, revela.
Afeto e empatia
Assim como Maria, outras mães precisaram se adaptar a uma nova realidade para poderem sustentar seus filhos. Uma delas foi Keyla Beserra Cavalcante, de 38 anos: nascida e criada na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal, filha de pais nordestinos, a primeira da família a estudar em uma universidade pública, mãe de três filhos e, com a pandemia, parte dos 14,3 milhões de desempregados do país.
Logo que a pandemia se instalou, ela sofreu seu primeiro baque financeiro: a redução salarial no emprego que tinha à época e, pouco tempo depois, a demissão. Com a renda comprometida, ela precisou se mudar do apartamento que morava com as crianças para uma kitnet dos pais. Antes das coisas piorarem, ela voltou a estudar e criou uma empresa de cosméticos naturais. “Eu tenho usado a fabricação desses produtos não só como fonte de renda, vai muito além disso. É como uma terapia para manter a sanidade mental”, conta Keyla.
Segundo o Ipea, 43% das mulheres que são chefes de domicílio hoje no Brasil vivem em casal – sendo que 30% têm filhos e 13% não. Já o restante das 34,4 milhões das responsáveis pelo lar se dividem entre mulheres solteiras com filhos (32%), mulheres que vivem sozinhas (18%) e mulheres que dividem a casa com amigos ou parentes (7%).
Para elas, ser mãe e chefe de família não é uma escolha, é uma condição. “Não romantizo isso, eu sinto uma pressão enorme e uma sobrecarga gigante em cuidar sozinha das finanças, das demandas educacionais dos meus filhos, além de cuidar da produção da minha empresa”, conta Keyla.
Dentro de uma relação afetuosa com os filhos, ela escuta e acolhe, sempre passando o que aprendeu com os pais. “Não tive educação financeira e, sem emprego fixo, meus pais não tinham uma relação muito certa com o dinheiro. O que eu aprendi quando criança foi a não gastar além daquilo que eu tenho. É isso que eu passo para os meus filhos”, revela ela. “Essa educação chegou com a maturidade e o que eu ensino para eles é a necessidade de se manter uma vida mais simples, buscando outros valores para o dinheiro”, completa.
CFC explica como gerenciar a renda familiar
O coordenador do Programa de Voluntariado da Classe Contábil (PVCC), contador Elias Dib Caddah Neto, ressalta as mudanças sociais e a presença, cada vez maior, das mulheres no mercado de trabalho e em cargos estratégicos. Ao mesmo tempo, o contador lembra que essas personagens ainda ocupam outras atividades, como o cuidado com o lar e com os filhos. “A gente observa, cada vez mais, o papel feminino dentro da sociedade, ocupando cargos importantes de um modo geral. Verificamos a participação, bastante efetiva das mulheres na questão da economia, da chefia das famílias e da gestão de negócios. Isso, sem o lado feminino abrir mão dos serviços familiares, como ser mãe, contribuir com o cuidado com a casa, sozinha ou junto com seu parceiro ou parceira”, contextualiza.
Nesse novo cenário, estão presentes as mulheres que chefiam sozinhas suas casas. Elas gerenciam o trabalho e a família e também precisam controlar as finanças de seus lares. No contexto atual, marcado pelos impactos sociais e econômicos gerados pela pandemia da Covid-19, essa tarefa se tornou mais difícil para muitas brasileiras. Contudo, um bom planejamento financeiro e algumas mudanças de hábito podem contribuir para lidar melhor com esse momento. “A primeira dica para que as mulheres chefes de família façam uma boa gestão financeira das suas contas é exatamente ter o controle sobre suas finanças. É muito importante fazer o planejamento financeiro, a análise do que realmente é essencial para que se possa ter essas finanças, de um modo geral, sob controle, assim como tentar evitar endividamentos, buscando fazer pagamentos de compras à vista e sem, obviamente, a necessidade de se recorrer ao cheque especial e ao cartão de crédito, que possuem juros bastante elevados”, orienta Caddah.
Filhos também devem participar da gestão financeira do lar
O gerenciamento das finanças familiares é mais bem-sucedido quando toda a família se envolve nesse objetivo. Caddah afirma que os filhos devem conhecer a realidade financeira da casa para que, conscientes, possam reduzir gastos, quando necessário, e contribuir para o equilíbrio das contas. “É importante que toda a família esteja comprometida com a saúde financeira do seu lar e ela só pode estar comprometida se souber exatamente qual é o orçamento daquela família porque, muitas vezes, os filhos não conhecem os orçamentos e as limitações que os pais e as mães têm”, explica.
Sobre o envolvimento dos filhos na saúde financeira da família, o contador ressalta que, desde pequenas, as crianças precisam entender o valor do dinheiro e a relevância de sua administração. “É importante ensinar as crianças, os filhos, desde pequenos, exatamente a importância e o valor do dinheiro e a necessidade de poupar, por exemplo, para que se possa fazer a aquisição de algum bem que a criança deseja, para que ela possa dar valor ao dinheiro. Também é relevante ensinar a cultura da poupança e da reserva financeira”, cita Caddah.
O contador pontua que, tendo o orçamento sob controle e sabendo exatamente quanto se ganha e se gasta, é possível destinar parte do dinheiro para uma reserva financeira. A finalidade é garantir, dentro de uma situação de exceção, de contingência ou de emergência, como oscilações do mercado ou perda de parte do salário, uma reserva para que se possa manter parte do padrão de vida habitual até que se consiga reequilibrar as contas.
O que deve ser priorizado
A verificação sobre o que pode ou não ser cortado dentro do orçamento doméstico varia de família para família. Nesse sentido, é necessário fazer uma análise das possibilidades financeiras e, em alguns casos, fazer cortes e readequar padrões de vida à realidade orçamentária. “É necessário fazer uma análise do que efetivamente é essencial, como gastos com alimentação, aluguel e energia elétrica, por exemplo. Esses gastos são essenciais, mas você pode abrir mão, por exemplo, de uma saída no final de semana, de alguma compra que não está necessitando naquele exato momento para que possa, momentaneamente, fazer uma readequação e um planejamento financeiro familiar mais saudável”, esclarece Caddah.
Essa análise pode trazer muitas respostas para as famílias, indicando qual é a sua realidade de fato e quanto é possível gastar sem comprometer a saúde financeira. “Todo esse processo é necessário para que se possa verificar o que efetivamente pode ser cortado. Se for fazer algum corte, esse sacrifício, às vezes, pode ser temporário, mas necessário para que se crie o hábito de se fazer uma poupança, uma reserva de emergência ou, consequentemente, adequar o orçamento a uma determinada realidade”, salienta o contador.
Caddah afirma que a avaliação deve ser feita de família em família para que se observe o que passa a ser supérfluo ou um gasto essencial e que não pode ser abandonado em hipótese alguma. Contudo, o contador lembra quais seriam alguns desses gastos essenciais. “As prioridades são aquelas básicas de saúde, de educação, de alimentação, de gastos para a manutenção da casa, que você tem todos os meses e que precisam ser honradas”, orienta.
Fonte: Contábeis
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