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Tenho visto muitos artigos recomendando que as startups gastem com mais prudência dado o cenário atual. Com a diminuição da liquidez e dos “valuations”, o conselho clássico tem sido algo na linha de: “Diminua seu cash-burn e aumente seu runway. Assim, não precisará fazer uma rodada nova tão cedo e não correrá o risco de down round, diluição excessiva ou até o fracasso da sua rodada.”

A questão é que de nada adianta esse conselho agora. Por que?

Vamos examinar o que acontece com uma empresa que sempre foi “gastona” e agora, de um dia para o outro, tenta corrigir esse comportamento. A falta de disciplina financeira é normalmente um comportamento sistemático que vem de cima, portanto, se dissemina e se consolida na cultura toda. Se os líderes da empresa se vangloriam sobre excesso de liquidez e valor de mercado, o time todo tem menos incentivo para maximização de resultados e minimização do uso de recursos. Além disso, no mundo de infinitas possibilidades, lá se vai o incentivo à priorização.

Então, numa cultura que não prioriza eficiência há tempos, o que acontece quando, do dia para a noite, a nova diretriz é eficiência?

Na minha opinião e experiência, são dois efeitos: o primeiro é a confusão do time, pois a nova direção vai na direção contrária à cultura criada durante meses, e o segundo é frustração e resistência. Por mais dinâmico que seja o mundo de startups, todo mundo tem dificuldade de mudar, e inverter padrões de comportamento que foram construídos por meses em apenas dias, é mais difícil ainda. Ou seja, o resultado para uma empresa que quer implementar os conselhos dos artigos do dia para noite é a construção de uma cultura incoerente, infelicidade do time e consequente falta de agilidade e força de resposta.

Como resolver este problema?

Eficiência e, consequentemente, disciplina financeira são cultura, e cultura se trabalha não só em momentos de crise, mas todos os dias. A eficiência não pode ser prioridade apenas nos momentos de crise, deveria ser um dos pilares de organizações capitalistas e deve ser um assunto endereçado até no “bull market”.

É muito fácil nos momentos de crise nos dizer que temos que diminuir cash-burn e aumentar o runway, mas onde estavam esses conselhos quando em 2021 algumas startups chegaram a receber três rodadas no mesmo ano?

Essa discussão tem que ser estimulada ao longo de todos os ciclos econômicos, de fora para dentro e de dentro para fora. O “fora” (investidores, mentores, escritores e organizações de start-ups) e “dentro” (membros de conselho, empreendedores e funcionários) devem exercitar sua responsabilidade com o ecossistema dialogando sobre eficiência sempre — e não ocasionalmente.

E para aquelas startups que não trabalharam essa cultura ao longo do tempo, e estão tendo que implementar o padrão de eficiência agora, às pressas, meu conselho é: ofereça transparência e apoio ao seu time. Mostre as origens dos erros, o seu plano de mudança no curto e (mais importante ainda) no longo prazo, e ofereça muito guidance para o seu time nesse momento de adaptação.

Lidere pelo exemplo, seja consciente das ações, não só hoje, mas sempre. E o mais importante de tudo: não esqueça o compromisso da sua cultura com eficiência quando esses artigos saírem de moda.

Por Paula Mendes Caldeira, cofundadora e CFO da Plugify, startup brasileira de HaaS – Hardware as a Service que simplifica TI para empresas.

Fonte: Jornal Contábil
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