A entrada em vigor da nova NR-01, que estabelece diretrizes para a gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho, foi adiada em um ano — ficando para maio de 2026. A prorrogação foi determinada pelo Governo Federal com o objetivo de conceder mais tempo para que as empresas se adaptem às novas exigências.
Como já sabemos, a atualização da NR-01 apresenta uma mudança significativa para todas as companhias no Brasil com a obrigatoriedade de identificar, avaliar e gerenciar os fatores de risco psicossociais no ambiente de trabalho. Pela primeira vez, a saúde mental é formalmente reconhecida como parte integrante do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), exigindo que as organizações tratem esse aspecto com o mesmo rigor e sistematização já aplicados a outros riscos ocupacionais.
Como profissional da saúde, destaco a relevância da área psicossocial do ser humano envolvendo as interações entre aspectos psicológicos e sociais, como pensamentos, emoções, personalidade, relacionamentos e contexto sociocultural. No ambiente de trabalho, esses fatores se manifestam em diversas situações, como sobrecarga de tarefas, metas abusivas, assédio moral ou sexual, ausência de apoio, ambientes hostis, entre outros. São elementos que, quando não devida e corretamente gerenciados, comprometem diretamente seus colaboradores e, em consequência, afetam a produtividade, gerando afastamentos, aumentando os índices de absenteísmo e até resultando em processos trabalhistas.
A mudança na NR-01 vem, portanto, em resposta a um cenário que há tempos exige atenção. Na prática, isso significa que as companhias precisarão desenvolver políticas claras, mapear vulnerabilidades e implementar ações específicas. E não se trata de aplicar uma solução genérica, pois cada ambiente de trabalho apresenta riscos distintos que devem ser avaliados com ferramentas adequadas e com o apoio de profissionais especializados.
Mais do que uma exigência legal, a inclusão dos fatores psicossociais no PGR representa uma oportunidade real de transformação nos ambientes corporativos. Cuidar da saúde mental no trabalho exige uma mudança de cultura, em que o bem-estar do colaborador seja tratado com a mesma prioridade dada à produtividade. Isso implica revisar práticas de gestão, incentivar a escuta ativa, promover uma comunicação mais transparente e investir no desenvolvimento de lideranças capazes de criar um ambiente seguro, psicológico e emocionalmente.
Mas, conseguimos esperar mais um ano? Deixo aqui esta provocação. Estamos novamente colocando em primeiro plano o benefício para o cenário corporativo mas, para quem a NR-01 foi criada? Para o colaborador ou a empresa, que terá mais 12 meses para se adequar a uma humanização que naturalmente já deveria ser feita? Afinal, estamos falando de Recursos Humanos, não?
A Organização Mundial da Saúde aponta o Brasil como um dos países com maior prevalência de transtornos como depressão e ansiedade. O aumento dos casos de burnout é evidente em diversos setores, e o impacto nas organizações é imensurável. Dados divulgados recentemente revelam que, entre 2014 e 2024, os afastamentos por burnout aumentaram 1.000% no Brasil, refletindo o agravamento deste problema. Sabe-se que funcionários com burnout têm quase três vezes mais chances de procurar outro emprego e apresentam menor produtividade e engajamento. Com a atualização, o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) passa a incluir de forma obrigatória os fatores psicossociais, exigindo um plano de ação registrado no eSocial, o que inclui desde a identificação dos riscos até as estratégias de mitigação e acompanhamento contínuo.
É importante compreender que os riscos psicossociais não são visíveis a olho nu, mas seus efeitos se acumulam silenciosamente. Exaustão constante, queda de motivação, conflitos recorrentes, afastamentos frequentes e até a alta rotatividade, podem ser reflexos diretos de um ambiente de trabalho tóxico ou desestruturado emocionalmente. A NR-01, ao tornar obrigatória a abordagem desses fatores, formaliza algo que já deveria fazer parte da rotina das organizações: o cuidado com as pessoas.
Empresas que se anteciparem, adotando medidas preventivas e estruturadas, estarão não apenas em conformidade com a legislação, mas também mais preparadas para enfrentar os desafios do futuro do trabalho. Um ambiente psicologicamente saudável favorece a retenção de talentos, melhora a performance das equipes e fortalece a imagem institucional da empresa diante de colaboradores, clientes e da sociedade.
Ignorar os riscos psicossociais, por outro lado, pode custar caro, tanto em termos financeiros quanto humanos. O impacto vai além das penalidades previstas pela norma e compromete a coesão das equipes, fragiliza a cultura organizacional e a sustentabilidade do negócio no longo prazo. É preciso entender que saúde mental e desempenho caminham juntos. Um não existe sem o outro.
A entrada em vigor da nova NR-01, portanto, não é apenas uma mudança normativa. É um chamado real e urgente à ação. Um convite para que as companhias assumam um compromisso mais amplo com o bem-estar de seus colaboradores, criando ambientes mais humanos, respeitosos e resilientes não apenas em discursos, mas na prática do dia a dia.
Porque, cuidar de pessoas é, no fim das contas, a forma mais inteligente, e responsável, de cuidar da empresa.

O post NR-01 e os riscos psicossociais: prorrogação traz alívio ou desafios para as empresas e seus colaboradores? apareceu primeiro em Jornal Contábil – Independência e compromisso.
Contabilidade em SBC é com a Dinelly. Fonte da matéria: Jornal Contábil