Quando falamos em violência no Brasil, o primeiro pensamento geralmente recai sobre o número de homicídios, assaltos ou sobre a sensação de insegurança nas ruas. No entanto, o que poucas pessoas percebem é que, por trás dessas estatísticas sociais, existe um custo econômico brutal que afeta diretamente a produtividade, o orçamento público e a sustentabilidade do desenvolvimento nacional.
Estudos recentes indicam que o Brasil gasta cerca de 11% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com os impactos diretos e indiretos da violência. Isso equivale a mais de R$ 1 trilhão por ano. É um rombo invisível que sabota o crescimento, corrói a competitividade das empresas e limita a capacidade de investimento em áreas essenciais como educação, saúde e infraestrutura.
Como contador, e atuando também como consultor de empresas em diversas regiões do país, tenho visto de perto os efeitos desse problema em diferentes setores da economia. A violência, para além da tragédia humana, virou também um fator contábil — que pesa no balanço das empresas, nos relatórios de custo das famílias e nos demonstrativos orçamentários do Estado.
A conta que não fecha
Em 2023, o Brasil registrou 46.328 mortes violentas intencionais, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Embora esse seja o menor número desde 2011, ainda estamos falando de 22,8 homicídios por 100 mil habitantes, uma taxa inaceitável para qualquer nação que almeja desenvolvimento sustentável.
Cada homicídio representa uma tragédia individual, mas também um impacto coletivo. Segundo estimativas anteriores do Ipea, cada morte custa em média R$ 1 milhão aos cofres públicos. Isso inclui gastos com o sistema de saúde, previdência, processos judiciais, segurança e a perda de capacidade produtiva daquele cidadão.
Somente com homicídios, o Brasil perde mais de R$ 46 bilhões por ano.
Mas o custo da violência vai além das estatísticas criminais. Ele está no cotidiano das empresas, que têm que investir em segurança privada, pagar seguros mais caros e lidar com quedas de produtividade em regiões conflagradas.
Segurança pública: um gasto que cresce sem resolver
Em 2023, os gastos com segurança pública no Brasil chegaram a R$ 124,8 bilhões, sendo R$ 101 bilhões bancados pelos estados e o restante pela União e municípios. Isso representa um aumento em relação a anos anteriores, mas ainda é insuficiente para combater os fatores estruturais da violência.
Enquanto isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou R$ 41 milhões apenas com internações por arma de fogo em 2022, segundo estudo do Instituto Sou da Paz. E esse valor não contempla os gastos com reabilitação, terapias, acompanhamento psicológico ou custos prolongados com sequelas.
O setor privado também paga a conta
Se o setor público sente o impacto, o setor privado também não fica ileso. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as empresas brasileiras gastam quase 2% do PIB com segurança privada — o que representa cerca de R$ 170 bilhões por ano.
São recursos que poderiam estar sendo investidos em inovação, ampliação de operações, geração de empregos ou qualificação profissional. Já atendi clientes que desistiram de abrir unidades em determinados bairros ou migraram seus negócios para outros estados, simplesmente porque a conta da violência não fechava.
Esse impacto é ainda mais sentido por pequenos negócios, que não têm estrutura para bancar vigilância 24h, transporte blindado ou seguros patrimoniais altíssimos. Em muitas regiões, a violência virou um impeditivo real para o empreendedorismo.
O preço do futuro
A violência compromete não apenas o presente, mas o futuro. Jovens que abandonam a escola por medo, trabalhadores que enfrentam rotinas sob tensão, famílias desestruturadas e comunidades reféns da criminalidade.
No Rio de Janeiro, por exemplo, um estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio) estimou que a violência causa uma perda de até R$ 11,48 bilhões por ano, o que representa 0,9% do PIB do estado.
E esse tipo de impacto tende a se perpetuar em ciclos. Quanto mais insegurança, menos investimento. Menos investimento, menos oportunidades. Menos oportunidades, mais violência.
A violência precisa entrar no radar econômico
Como especialista em finanças públicas e estratégias empresariais, defendo que a violência seja tratada como uma variável econômica, e não apenas como um problema de segurança pública. Precisamos colocar esse debate na mesa do ministro da Fazenda, do empresário, do investidor e do gestor público.
Investir em segurança é fundamental. Mas investir em educação de base, cultura, esporte, urbanismo e oportunidades para os jovens é, sem dúvida, a melhor política de segurança a longo prazo — e mais barata.
Assim como acompanhamos o dólar, a taxa Selic ou os índices de inflação, precisamos monitorar os custos da violência e agir sobre suas causas estruturais. Porque enquanto ela for ignorada nas análises econômicas, seguiremos subestimando seu impacto real.
A fatura invisível
A violência custa caro. Muito caro. E custa a todos nós.
Como contador, sei que nem todo custo aparece nas notas fiscais. Mas ele se revela no crescimento que não vem, na empresa que fecha, no jovem que não conclui os estudos, no orçamento público pressionado. A violência é um passivo social que contamina toda a contabilidade do país.
Enquanto continuarmos tratando esse problema como algo externo ao desenvolvimento, seguiremos alimentando esse rombo invisível — que, ano após ano, sabota o futuro do Brasil.
O post O Brasil que paga a conta: Qual o custo da insegurança e da violência para o país? apareceu primeiro em Jornal Contábil – Independência e compromisso.
Contabilidade em SBC é com a Dinelly. Fonte da matéria: Jornal Contábil