Volumes maiores de empréstimos, queda brutal nas receitas. É grave a doença transmitida pela Covid-19 às maiores instituições bancárias do Brasil. E os sintomas devem demorar para passar. Segundo um relatório da agência Moody’s, a crise econômica que se anuncia terá efeito latente nas operações dos cinco maiores bancos do país, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú, Santander e Bradesco, e a recuperação deve “demorar mais do que o esperado”.
A instituição aponta que a economia brasileira deve se deteriorar 5,2% neste ano, graças à paralisação de atividades. “Esperamos que a economia brasileira contraia-se acentuadamente em 2020, apesar do amplo estímulo monetário e fiscal de emergência para evitar danos permanentes à renda de empresas e famílias”, destacam os economistas da instituição Ceres Lisboa, vice-presidente; Maria Celina Vansetti, diretora-geral; e Henrique Ikuta, analista.
Segundo o relatório obtido por VEJA, os bancos serão atingidos de frente pelo aumento do número de pedidos de empréstimo e, consequentemente, o aumento do risco para se conceder dinheiro à clientela, sejam pessoas físicas ou empresas.
A agência elenca a preocupação com a falência de diversos negócios no país e diz que, apesar de corretas, as medidas como a possibilidade de suspensão de salários e contratos para evitar demissões e outras medidas anunciadas pelo governo “não serão suficientes para reduzir a tensão nos ganhos nos próximos dois anos”, causando impacto nas reservas das instituições.
A Moody’s aponta que os empréstimos para pequenas e médias companhias aumentou 10,4% desde o último trimestre do ano passado, e elogia a celeridade das instituições para a tomada de atitudes para mitigar os efeitos do coronavírus na economia, como a disponibilização de recursos para os clientes e alocação de recursos para estas injeções.
O aumento, aponta a instituição, é um reflexo do incentivo por parte do Governo Federal para que as instituições garantam a sobrevivência de empresas e a consequente manutenção de empregos, como a redução dos provisionamentos bancários e o reajuste das alíquotas das linhas de crédito tomadas pelas instituições.
Segundo a agência, somados, os três maiores bancos privados do país ofereceram 12% de empréstimos sem garantias neste trimestre em relação aos últimos dois anos.
A empresa, porém, coloca em questão uma dúvida: a capacidade dos bancos públicos Caixa, Banco do Brasil e BNDES de segurar a bronca e assumir a responsabilidade pelo aumento do risco, dada a esperável inadimplência com a queda expressiva das receitas de empresas e vencimentos das famílias.
O principal risco para as instituições é a concessão de crédito sem as garantias de que os bancos públicos tenham capacidade de suprir o possível calote. “O declínio geral no volume de negócios e nas receitas pressionará a lucratividade”, dissertam os economistas.
Apesar da retração das contas das instituições, as instituições não correm risco de falência. Na semana passada, os principais bancos privados do país publicaram seus tenebrosos balanços, com números que, como esperado, levaram acionistas ao desespero. O Bradesco puxou a fila e anunciou uma queda de 39,1% nos lucros do primeiro trimestre, para “míseros” 3,7 bilhões de reais. O lucro do Itaú, por sua vez, despencou 43,1%, e a instituição amargou o registro de “apenas” 3,9 bilhões de reais.
A Moody’s aponta ainda que as incertezas quanto à duração das políticas de isolamento decretadas por prefeitos e governadores, a despeito da posição errática do presidente Jair Bolsonaro, aumenta o risco para os bancos nas últimas semanas.
Outro fator elencado pela Moody’s é o cenário de juros baixos vividos pelo país. A taxa básica determinada pelo Banco Central (BC), a Selic, aponta a instituição, deve ser ceifada durante a reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom. A decisão será anunciada nesta quarta-feira, 6. “Esperamos pressão negativa na receita financeira líquida após o corte recente na taxa Selic de referência doméstica, e que pode ser reduzido ainda mais com o passar da crise.
Em março, a Selic era de 3,75%. No entanto, pode levar até o terceiro trimestre de 2020 para o efeito total do corte da taxa a ser refletido nas margens dos bancos”, diz o texto.
Com Revista Veja – Maio 2020
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Fonte: Jornal Contábil
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