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A maior parte dos pequenos e médios comerciantes (46%) considera o aspecto social do ESG – sigla para meio ambiente, social e governança – o quesito mais relevante para o seu negócio. É o que revelou uma sondagem inédita realizada pelo Comitê ESG da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O estudo ouviu 100 empresas do comércio na capital paulista (90 com menos de 10 empregados e 10 com mais de 50), com os objetivos de avaliar o que entendem sobre as temáticas ESG e verificar se estão atuando dentro deste escopo. Com base nos resultados, o comitê – que integra o Conselho de Sustentabilidade (CS) da Federação – estabelecerá estratégias para orientar os pequenos comerciantes na agenda.

Quase um quarto dos entrevistados apontou a falta de conhecimento – ou seja, não saber identificar o que fazer neste sentido – como barreira para adoção dos critérios ESG, além da necessidade de incentivos governamentais. Em razão disso, a maioria informou não ver necessidade em adotar nenhuma ação, sendo 35% para os aspectos ambiental e social, e 34% para governança.

A porcentagem das empresas que consideram o aspecto social o mais importante superou as perspectivas ambiental e de governança (ambos com 27%). Quando perguntados sobre o segundo quesito mais importante, os comerciantes também apontaram o social (40%). Já a governança foi citada por 50% das empresas como o terceiro mais relevante. Na avaliação da FecomercioSP, esta percepção pode refletir também os efeitos da pandemia de covid-19, durante a qual muitos destes negócios se esforçaram para não demitir, além de terem adotado medidas para o controle da disseminação do coronavírus entre colaboradores e clientes.

A preocupação com o social aparece em ações adotadas em relação aos colaboradores, aos clientes, à vizinhança e aos demais stakeholders. Quanto à qualidade de vida dos colaboradores, 60% disseram que o impacto causado pela empresa é positivo (consenso entre os dois grupos pesquisados). No que concerne à qualidade de vida dos clientes, 67% consideraram impactar de forma positiva (em ambos os grupos a resposta foi semelhante, 67% e 70%, respectivamente).

No que diz respeito à vizinhança, 43% também afirmaram ter impacto positivo (mesma proporção das respostas do grupo de empresas com até 10 empregados, e porcentual semelhante para as outras – 40%). Com relação às práticas adotadas para o bem-estar social, embora 53% terem informado não realizar nenhuma ação, entre os que adotam, 21% disseram fazer contribuições financeiras (exceto para causas políticas), enquanto a mesma porcentagem (21%) faz parcerias com organizações beneficentes ou participação em organizações comunitárias. Por fim, 11% apontaram como prática os investimentos na comunidade.

Os comerciantes citaram o desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (33%), a insuficiência de recursos financeiros (29%) e a necessidade de incentivos governamentais (24%) como principais barreiras para a adoção de práticas ESG no aspecto social.

Governança

No quesito “governança”, quando avaliadas as ações para gestão de pessoas, 71% das empresas (69% do grupo com até 10 empregados e 90% do outro grupo) afirmaram terem trabalhadores formalizados, seja pelo regime CLT, seja por contrato laboral. Entre os comércios com mais de 50 funcionários, 70% oferecem oportunidades de contratação e desenvolvimento de carreira de forma isonômica a todas as pessoas, com atenção às suas peculiaridades e características (entre os negócios com menos colaboradores, são 49%, e no total, 51%).

No que diz respeito às práticas relacionadas aos direitos humanos (inclusão e diversidade), todos os comércios com mais funcionários disseram adotar medidas que promovam o trabalho decente, tratando os colaboradores de forma respeitosa. Do total das empresas, o porcentual ficou em 62%, e entre o grupo com menos trabalhadores, em 58%. Quando perguntados sobre a adoção de medidas para impedir e reparar situações de assédio ou violações, 45% dos negócios – dos quais 42% fazem parte do segmento com até 10 empregados, e 70%, do grupo dos demais – afirmaram exercer ações nesse sentido.

A corrupção também é uma grande preocupação: 44% adotam medidas para prevenção e combate, ao passo que 63% têm a transparência como princípio. Em relação à diversidade na liderança, a pesquisa demonstra que 45% dos negócios são liderados por mulheres. O porcentual chega a 50% nas empresas com mais de 50 empregados. Já as que não são exercidas por pessoas de grupos sub-representados são 29%, enquanto 17% são lideradas por pessoas idosas; 10%, por outros grupos sub-representados (por exemplo, o LGBTQIA+); e 3%, por grupo racial ou étnico sub-representado.

Os resultados da pesquisa no aspecto da governança apontam ainda que as ações relacionadas a cooperação e/ou parcerias em prol de iniciativas sociais e ambientais ainda têm baixo engajamento (86% afirmaram não ter atitudes nesse sentido). As empresas também avaliam pouco os seus fornecedores com critérios ESG. Os quesitos mais citados por elas foram: localização na mesma comunidade ou região geográfica (22%), corrupção (21%) e programa de reciclagem (18%). No tocante às barreiras de governança, também há desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (32%), insuficiência de recursos financeiros (26%), e, diferentemente dos aspectos ambiental e social, foi apontada a falta de conhecimento (25%).

“As empresas, de qualquer porte, tipo ou setor, precisam trilhar a jornada ESG em busca do desenvolvimento sustentável. É preciso que elas saibam que há benefícios práticos para os comerciantes que adotam estas medidas. O investimento em sustentabilidade é sinônimo de oportunidade, não só para atender um consumidor cada vez mais exigente com as marcas, mas para que as PMEs possam integrar cadeias de fornecedores de grandes companhias, que exigem adaptações e conformidades de ESG”, analisa o coordenador do Comitê ESG da FecomercioSP, Luiz Maia.

Ambiental

Em relação ao aspecto ambiental, as empresas com mais de 50 empregados, como o esperado, estão mais atentas do que as com até 10 colaboradores. No primeiro grupo, 70% monitoram a água, enquanto no segundo, apenas 21%. Para os resíduos sólidos, a diferença é de 50% para 16%. Na energia, de 70% para 28% – o acompanhamento do consumo de não renovável é feito por apenas 10% das empresas do primeiro grupo, e nenhuma do outro.

Assim, com exceção do uso de lâmpadas de LED (91%) e da gestão de resíduos sólidos (48% fazem a triagem dos recicláveis e 27%, a substituição de descartáveis), as empresas têm baixo desempenho na adoção de boas práticas ambientais. Em relação às barreiras, assim como nos demais quesitos, as mais destacadas foram desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (33%), insuficiência de recursos financeiros (30%) e necessidade de incentivos governamentais (27%).

A falta de percepção de que causam impactos ambientais se confirma na avaliação das empresas sobre os efeitos gerados com suas operações: 97% declararam não produzir impactos em relação às mudanças climáticas; 95%, à poluição do solo, escassez de recursos naturais e de água; 96%, à poluição da água; e 93%, à poluição do ar. Como consequência do desconhecimento, nenhuma monitora as emissões de gases de efeito estufa.

“O que esta sondagem revela é que os pequenos comerciantes ainda não compreendem totalmente como atuar na agenda ESG, especialmente quando falamos do aspecto ambiental. Por isso é que são importantes as ações de orientação e divulgação, proposta do Comitê ESG, da FecomercioSP. Por outro lado, é interessante observar também que, apesar da pouca compreensão, o comércio – em sua maioria pequenas e médias empresas – já está adotando, espontaneamente e mesmo com as limitações próprias das PMEs, ações para uma gestão mais responsável”, avalia Maia.

Nota metodológica

A pesquisa foi realizada por entrevistas telefônicas com 100 empresas do comércio (não inclusas as de capital aberto), situadas na cidade de São Paulo, no período de outubro a novembro de 2021. Responderam ao questionário 90 negócios com menos de 10 empregados e 10 com mais de 50. A amostra é representativa do universo de empresas do comércio do Estado de São Paulo. As entrevistas foram realizadas com o gerente ou o dono (para o grupo com até 10 funcionários). Nas demais, quando possível, com o responsável pela área de Meio Ambiente, Sustentabilidade ou ESG. O questionário é composto por uma introdução, com breve explicação da pesquisa para o entrevistado, e por cinco partes: (I) caracterização da empresa, (II) social, (III) ambiental, (IV) governança e (V) barreiras e expectativas.

Comitê ESG

O Comitê ESG, órgão vinculado ao Conselho de Sustentabilidade (CS) da FecomercioSP, foi criado com o objetivo de incorporar a agenda ESG no desenvolvimento sustentável das empresas, além de produzir conhecimento e métricas e tangibilizar medidas para todos os portes de negócios. Pretende também disseminar e engajar o setor produtivo, os governos e a sociedade civil.

A FecomercioSP Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo. 

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Fonte: Jornal Contábil
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