Com as mudanças do cenário econômico, e do poder aquisitivo da população, entre outras características, um fato é certo: o acesso ao crédito se tornou mais facilitado – e necessário. O desafio agora consiste muito mais em ter acesso ao dinheiro, utilizando-o de maneira certeira e sustentável.
Mas ter maturidade para lidar com o dinheiro (e com a falta dele) não é tarefa fácil. Por isso, a temática de educação financeira tem ganhado força nos últimos meses. Afinal, é diante das adversidades que percebemos o papel fundamental de uma reserva de emergência, por exemplo.
Essa é apenas uma situação entre as várias que podem surgir em nossa vida e que demonstram a importância do uso consciente do crédito. Nesta reflexão trago algumas percepções de mercado e o que observamos em nosso dia a dia na Ahfin – fintech RH com foco em saúde financeira.
Analise as alternativas disponíveis
Se você enfrenta algum problema financeiro e precisa quitar uma dívida, escolha qual opção pode melhor atender. Utilizar cartão de crédito? Acionar o limite do cheque especial? Ou, ainda, adquirir crédito consignado que apresente juros que possam ser negociados/pagos?
É importante analisar a melhor opção no momento que você está atravessando e que se ajuste às suas condições de quitá-lo. Quando falamos em crédito, temos que viver o presente sem esquecer o futuro.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostrou que 52% dos brasileiros não possuem uma reserva de emergência – o que mostra que usar recursos como os citados é comum e necessário.
Vale salientar que a criação e manutenção de uma reserva de emergência é essencial para evitar surpresas desagradáveis e gastos exorbitantes.
Verifique a urgência do seu problema/objetivo
Aqui menciono o termo “problema”, mas, muitas vezes, a solicitação de crédito pode estar relacionada à concretização de um objetivo maior.
Em uma situação adversa, sabemos que a análise da melhor opção de crédito pode ficar em segundo plano, devido à urgência em resolvê-la.
Agora, no caso da realização de um sonho (aquisição de um bem ou uma viagem, por exemplo), é essencial que você pesquise como pode viabilizá-lo de maneira menos onerosa, para que o sonho de hoje não se torne o pesadelo de amanhã.
No caso de viagem, o crédito consignado pode ser alternativa vantajosa, devido às taxas de juros abaixo das oferecidas no mercado. Surge como opção para o pagamento das despesas, evitando os reflexos da variação cambial comum nas faturas de cartões de crédito.
Em contrapartida, para compras breves, parcelamento sem juros e manutenção de programas de milhagem, por exemplo, o cartão de crédito pode ser aliado.
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), somente em 2020 ele foi responsável pela movimentação de R$ 1,18 tri no país.
Fuja das armadilhas do crédito
Um compra aqui, outra ali e, quando você percebe, seu orçamento mensal está comprometido. Um levantamento realizado pelo Serasa Experian em 2020 mostrou que, quanto menor o poder de compra, maior o comprometimento do salário relacionado aos gastos com cartão de crédito.
A pesquisa mostrou que consumidores com salários de até mil reais apresentaram gastos equivalentes a 60% do seu salário.
É compreensível que gastos desse tipo sejam maiores na realidade de quem recebe um salário menor. Deve-se estar atento é para o famoso “pagamento mínimo da fatura”, que pode contribuir para que a dívida vire uma bola de neve.
Para se ter uma ideia, a taxa de juros sobre esse tipo de pagamento variou de 301,9% ao ano em dezembro de 2020 para 311,7% em janeiro de 2021, conforme dados do Banco Central (BC).
Neste caso, eu trouxe apenas um breve exemplo do cartão de crédito, mas a lógica é a mesma para todos os tipos de crédito contratados.
Esteja atento a taxas aplicadas, condições para quitar a dívida e como um recurso que surgiu para lhe auxiliar pode piorar a sua condição financeira. Planeje-se e fuja das armadilhas.
Busque auxílio e orientação para escolher a melhor modalidade
A relação com as finanças é um desafio para todos nós. Isso porque a temática de educação financeira não é algo difundido ao longo de nossa vida.
A ampliação do poder de compra do brasileiro, a facilidade do acesso ao crédito e o consequente aumento do endividamento trouxe à tona a necessidade de se discutir sobre isso. Somente com conhecimento e orientação é possível termos consciência de como nosso dinheiro pode ser usado em nosso favor.
Quando falo de orientação, não pense que são somente as acessíveis por meio de cursos caros ou mentorias personalizadas.
Muitas informações iniciais sobre finanças pessoais, investimentos e planejamento podem ser acessadas a partir de conteúdos gratuitos que podemos encontrar na internet (claro, em sites e canais confiáveis).
Planejamento é a peça-chave da engrenagem, para que seja possível estabelecer uma relação saudável e sustentável com o dinheiro. A oferta de crédito facilitada nos cobra algo além dos juros: nos exige maturidade para sabermos lidar com o que teremos em mãos.
Por isso, é fundamental estabelecermos uma base sólida. Somente com ela, a realização dos sonhos e o alcance dos objetivos (de maneira sustentável e tranquila) será possível.
Por: Gustavo Godoy, economista e diretor executivo da Ahfin.
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Fonte: Jornal Contábil
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