Salario minimo - Imagem por @rafapress / freepik / editado por Jornal Contábil

A notícia de que o salário mínimo perdeu pela primeira vez o seu poder de compra desde a criação do Plano Real abalou o cenário financeiro nos últimos dias. As causas e explicações para o acontecimento são muitas, entre elas, a pandemia de covid-19 que atingiu o mundo nos últimos anos, a guerra entre Rússia e Ucrânia, os auxílios a população feitos pelo governo e entre outros.

João Beck, economista e sócio da BRA, afirma que para ele, dois grandes motivos colaboraram para a perda do poder de compra: a lei de correção do salário mínimo e o orçamento dos últimos anos.

“No início do governo Bolsonaro, ainda estava em vigor uma lei que obrigava o presidente a corrigir o mínimo pela inflação, somada ao crescimento do PIB. A lei terminou em 2019. Desde então, Bolsonaro só reajustou o mínimo pela inflação, como determina a Constituição.

O orçamento dos dois últimos anos foi bem oneroso por conta dos estímulos da pandemia, em especial o Auxílio Brasil. Os beneficiários foram justamente as camadas que são beneficiadas pela lei do salário mínimo o que deu margem para o reajuste mínimo por lei do salário mínimo, conforme analisa Beck.

Rafael Marques, CEO da Philos Invest, afirma que após 2019, as correções do salário foram feitas conforme a inflação.

“Eles usam o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) que passou a ser utilizado para reajustar o salário mínimo porque ele mede a variação dos preços e serviços mais consumidos pelas famílias com renda entre 1 a 5 salários mínimos, diferente do IPCA que tem o corte de 1 a 40 salários”, explica.

Como afeta o consumidor?

“A diminuição do poder de compra é quando o mesmo montante em dinheiro compra menos bens da economia por conta da alta da inflação. Quanto maior a inflação, maior terão que ser os reajustes para compensar essa corrosão no poder de compra”, explica Beck.

Para Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, a inflação não mexeu apenas com o poder de compra dos brasileiros, mas também com as suas aplicações.

“Temos uma inflação acumulada nos últimos doze meses acima da rentabilidade das aplicações financeiras. Além da perda do nosso poder de compra, a gente também teve perda das aplicações financeiras. Então, por natureza, até quem tem dinheiro aplicado perdeu dinheiro com a não redução, na verdade com o não repasse para os salários do IPCA e principalmente do IGPM a não indexação, a gente foi perdendo o espaço no poder de compra das pessoas físicas”, explica Costa.

Para Marques, o salário mínimo não evoluiu como as outras bases de comparação.

“Se você for olhar há 5 anos atrás, o consumidor comprava duas cestas básicas com o preço do salário mínimo e hoje em dia isso não é mais possível. O poder de compra do salário mínimo não evoluiu da mesma maneira do que outras bases de comparação”, explica.

Uma quantidade de dinheiro menor faz com que a economia gire menos, atingindo a camada da população que menos tem em relação aos que mais possuem poder aquisitivo.

Subir o salário mínimo seria a melhor opção?

“Não é necessariamente uma boa ideia subir muito além do ideal, o salário mínimo. Fazer isso causa uma deterioração das camadas da população que ele pretende justamente ajudar, causando mais inflação e inclusive aumentando o desemprego”, afirma João Beck.

Ainda segundo o economista, no longo prazo, o salário mínimo não perde poder de compra, já que a inflação sempre será reajustada por lei constitucional.
 

“A repercussão recente é por conta da perda temporária do poder de compra pela aceleração recente da inflação que ainda não passou por reajuste, que só ocorrerá no fim deste ano”, conclui.

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Fonte: Jornal Contábil
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