Simples Nacional Híbrido: como a Reforma Tributária pode mudar a competitividade das pequenas empresas

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A Reforma Tributária, aprovada pela Lei Complementar 214/2025, entra em vigor em janeiro de 2026 e inaugura um período de transição que vai até 2032. Durante esses anos, as empresas brasileiras terão de lidar com dois sistemas tributários em paralelo: o atual, que reúne tributos como ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI, e o novo modelo, baseado no IVA dual, formado pelo IBS (estadual/municipal) e pela CBS (federal).

Essa mudança não se limita a uma troca de siglas. Ela representa uma virada de lógica na forma como as empresas lidam com impostos. Até hoje, muitas companhias se beneficiaram de incentivos e isenções concedidos por estados e municípios, como reduções de ICMS ou isenção de ISS em determinados serviços. Esses benefícios funcionavam como um diferencial competitivo, mas também criavam distorções e alimentavam a chamada guerra fiscal.

Com a Reforma, esse cenário deixa de existir. As isenções locais não serão mais possíveis e, em vez de benefícios pontuais, passa a valer um sistema uniforme de créditos. Na prática, isso significa que toda compra passa a gerar crédito de IBS e CBS e toda venda precisa destacar esses tributos na nota fiscal. O cliente que compra de você poderá usar esse crédito para abater parte de seus próprios impostos, reduzindo o custo efetivo da operação.

Em outras palavras, os créditos se tornam o novo “benefício fiscal” e, por serem padronizados e nacionais, mudam a dinâmica de competitividade entre empresas.

O impacto no Simples Nacional

Para os optantes do Simples Nacional, essa transformação traz um desafio relevante. Se o regime fosse mantido exatamente como funciona hoje, a empresa continuaria recolhendo todos os tributos em uma única guia, o DAS, sem destacar IBS e CBS na nota. Isso significaria que o cliente não teria como se creditar dessas operações.

Em cadeias B2B, onde o aproveitamento de créditos será decisivo, essa situação colocaria as empresas do Simples em desvantagem frente a fornecedores enquadrados no Lucro Presumido ou no Lucro Real. Foi justamente para evitar esse efeito que surgiu a proposta do Simples Híbrido.

O que é o Simples Híbrido

O Simples Híbrido permite que a empresa permaneça no Simples para tributos como IRPJ, CSLL e CPP, mas passe a recolher IBS e CBS separadamente, com destaque na nota fiscal. Dessa forma, o cliente pode aproveitar créditos e a empresa mantém sua competitividade em negociações com outras empresas.

Na prática, o híbrido coloca pequenas e médias empresas, que ainda não possuem estrutura financeira ou de gestão de optar pelo Lucro Presumido, em condições de competir de forma mais equilibrada com companhias maiores, pelo menos no aspecto tributário.

Entretanto, é importante destacar que o crédito gerado por empresas do Simples será proporcional à carga de IBS e CBS que elas recolherem. Como essa carga tende a ser menor do que a de empresas enquadradas no Lucro Presumido ou no Lucro Real, o crédito transferido também será mais baixo. Por isso, preço e crédito passam a ser avaliados em conjunto e cada negociação precisará considerar esse novo comparativo.

Vantagens e desafios

O Simples Híbrido traz vantagens claras. Ele mantém a simplicidade do DAS para os tributos não incluídos no IVA, permite gerar créditos de IBS e CBS para os clientes e ajuda a preservar competitividade em contratos empresariais. Em alguns casos, pode até abrir portas para novos negócios, já que muitas empresas priorizarão fornecedores que oferecem créditos.

Por outro lado, o modelo híbrido exige mais organização. A empresa precisará emitir notas com destaque de IBS e CBS, controlar créditos e débitos e lidar com novas obrigações acessórias. Isso pode significar custos adicionais com sistemas e processos internos. Além disso, para empresas que vendem quase exclusivamente ao consumidor final, o híbrido pode não trazer benefícios relevantes.

Como avaliar se o híbrido faz sentido

Antes de decidir, é fundamental responder a algumas perguntas. Antes de decidir, vale responder a três perguntas.

Quem é o seu cliente principal?
Se você vende para empresas, a geração de crédito passa a ser um diferencial competitivo nas negociações. Se vende majoritariamente para consumidor final (B2C), seus clientes não aproveitam créditos, então o Simples tradicional tende a continuar fazendo mais sentido. Nesse cenário, adotar o híbrido só valeria a pena se o objetivo for você se creditar das suas próprias compras.

Qual é o seu perfil de custos e insumos?
Se a sua operação tem muito insumo/serviço com IBS e CBS embutidos e você quer aproveitar crédito nas entradas, será preciso estar no Simples Híbrido (ou migrar para regime regular). No Simples tradicional, a empresa não toma crédito de IBS/CBS dos fornecedores.

Qual é o nível de maturidade da sua gestão fiscal?
O híbrido exige disciplina operacional, emissão correta com destaque de IBS/CBS, controle de créditos e débitos e rotinas bem estruturadas. Durante a transição de 2026 a 2032, a convivência de dois sistemas aumenta a complexidade. A tendência é a operação ficar mais simples a partir de 2033, com a declaração pré-preenchida e os sistemas consolidados.

Por que isso importa para a sua empresa

A Reforma não altera apenas a forma de pagar impostos. Ela muda a lógica das negociações comerciais. A partir de agora, as empresas não vão comparar apenas o preço do produto ou serviço, mas também o crédito de IBS e CBS que podem aproveitar daquela operação.

Ignorar essa nova realidade pode significar perder contratos importantes. Já se antecipar, simular cenários e estruturar seus processos pode transformar o crédito tributário em um argumento de venda e até em uma vantagem competitiva.

Próximos passos

Para não ficar para trás, o ideal é começar agora. Converse com sua contabilidade e entenda como o Simples Híbrido se aplica ao seu caso. Simule cenários, comparando simples tradicional e híbrido, e avalie o impacto nos seus números. Revise contratos, incluindo cláusulas de recomposição de preços, e organize a rotina fiscal, garantindo que notas, relatórios e sistemas estejam consistentes.

Se precisar de apoio especializado em Reforma Tributária, na Pigatti Contabilidade estruturamos um Comitê de Reforma Tributária com foco em reduzir incertezas e organizar a tomada de decisão. Esse trabalho de consultoria resulta em um plano de transição com prioridades de ajuste, indicadores de acompanhamento e pontos de verificação para revisão periódica da estratégia.

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Contabilidade em SBC é com a Dinelly. Fonte da matéria: Jornal Contábil