A sociedade moderna mudou a forma de ver e encarar o trabalho. Se antes o indivíduo trabalhava apenas para suprir as suas necessidades básicas e as da sua família, hoje ele busca um propósito maior. E isso tem feito toda a diferença. Hannah Arendt, filósofa alemã, já falava em seu livro ‘A Condição Humana’ sobre a “vita activa existente nos tempos atuais”, em que o indivíduo se empenha ativamente em realizar algo em prol da sociedade e não apenas subsistir no mundo. Um dos pilares desse conceito seria a forma de ver o trabalho como uma maneira de atingir o seu propósito e de estar envolvido com a produção de algo maior que si mesmo, com reconhecimento pessoal no mundo.
É inevitável dizer que essa nova maneira de pensar traz diferentes consequências e benefícios para o mundo. Mas ao mesmo tempo em que há a busca incessante para um propósito e para um bem comum, o mercado de trabalho também impõe que o indivíduo produza cada vez mais rápido e melhor. A corrida por um novo cargo, para ser mais produtivo ou para inventar um produto novo virou o pesadelo de muitos colaboradores que, devido à exaustão por horas trabalhadas, acabam desenvolvendo a Síndrome de Burnout. Popularizada recentemente, a Síndrome de Burnout se refere a um conjunto de sintomas caracterizados por: sinais de exaustão emocional, estresse, perturbações gastrointestinais, transtornos cardiovasculares e sofrimentos psicossociais, como a depressão, que pode, inclusive, levar o indivíduo a tirar a própria vida.
Embora não haja um número exato sobre mortes por excesso de trabalho, o Japão, por exemplo, tem buscado medidas de prevenção ao suicídio e exaustão no trabalho. Entre elas, o governo passou a sugerir que os trabalhadores tirem a manhã de segunda-feira livre ou até mesmo que as empresas desliguem a eletricidade de seus prédios no horário de fechamento, evitando que os empregados façam horas extras. Logo, mais do que esperar pela proteção das leis trabalhistas, é importante que o próprio empregador entenda que a qualidade de vida do seu funcionário está positivamente correlacionada com a performance da empresa. Afinal, um colaborador saudável performa muito melhor que um doente.
É necessário desenvolver alternativas mais estratégicas para deixar o colaborador satisfeito, com qualidade de vida e feliz com o seu equilíbrio profissional e pessoal. E nem sempre falamos de remuneração e prêmios. Proporcionar saúde e bem-estar aos funcionários no próprio ambiente de trabalho agrega valor tanto para a qualidade de vida do colaborador quanto para o ambiente de trabalho e pode acontecer através de diferentes formatos e iniciativas, como por exemplo: adotar horários flexíveis de acordo com a demanda de cada um deles, oferecer serviços de beleza ou de massagens, espaços de relaxamento, opções de lazer no escritório, grupos de estudos e incentivar a prática de exercícios físicos.
Mas como essas estratégias podem favorecer o outro lado, o empregador? Quando um colaborador está infeliz com o seu emprego, além de desenvolver sintomas de Síndrome de Burnout e ter baixa produtividade, esse acaba procurando outro emprego. Isso é inevitável. O aumento de rotatividade, também conhecida como turnover, dói diretamente no bolso do empregador dado que recursos humanos e financeiros foram investidos em (i) recrutamento, (ii) treinamento e (iii) estratégias de retenção de talentos. Sem contar com o conhecimento e processos que se perdem quando alguém sai da empresa, ou ainda com o impacto que isso gera na cultura e clima do time.
Em si, isso já demonstra o quanto que os empregadores precisam se preocupar mais com a saúde e qualidade de vida do seu colaborador. Não apenas para reter talentos, mas para fazer parte do desenvolvimento pessoal e profissional do colaborador. Sem dúvida, empregadores com visão de longo prazo entendem que precisam manter os seus colaboradores por um longo período. Além disso, uma cultura de segurança psicológica, facilitada por canais de abertura para o colaborador expor as suas demandas e frustrações, geram transparência e confiança entre a relação empregado e empregador.
* João Henrique Vogel, CFOO e cofundador da Cuidas, startup que leva médicos e enfermeiros à empresas.
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Fonte: Jornal Contábil
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