Investidores do mundo todo utilizam uma infinidade de múltiplos para buscar estimar o valor intrínseco das empresas. Um dos mais utilizados é o famoso Preço / Valor Patrimonial, ou P/VP.
O valor patrimonial de uma empresa pode ser encontrado em seu balanço, ao calcular a diferença entre os ativos e passivos da mesma. Ou seja, é o seu patrimônio líquido.
A maioria dos investidores raramente utiliza o múltiplo P/VP como uma medida de valor ao analisar empresas não financeiras, pois grande parte dos ativos presentes nas demonstrações financeiras da companhia estão divorciados da realidade econômica.
Mas o que isso significa?
Anos atrás, na chamada “velha economia”, onde as manufaturas reinavam, o custo do terreno e de construção de uma fábrica menos os empréstimos incorridos pela empresa para financiar esses investimentos eram um bom indicativo de qual era o valor patrimonial da companhia.
Mesmo assim, já existiam falhas nesse processo, visto que o valor dos ativos de longo prazo (terrenos, por exemplo) eram registrados ao preço de custo. Dessa forma, caso o terreno se valorizasse ao longo dos anos, seu valor nas demonstrações financeiras não seria acompanhado.
Acontece que no mundo digital de hoje, com cada vez mais empresas atuando sob um modelo de negócio asset light, o valor contábil se tornou ainda menos relevante para a maioria das empresas.
Pegamos a Apple (AAPL34) como exemplo, a companhia mais valiosa do mundo, com um valor de mercado de cerca de US$ 2 trilhões, que não possui nem mesmo suas fábricas próprias.
A maior parte do valor da Apple não está em seu balanço. Mas no brilho no olho e na vontade dos clientes de comprarem e utilizarem os produtos da empresa, praticamente não se importando com o preço necessário para tal.
Esse brilho é uma consequência da força da marca da companhia, um ativo intangível criado por revolucionar o mercado de celulares, somente possível graças aos intensos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, marketing, funcionários e etc.
Gastos esses que são considerados despesas operacionais e recordados na demostração de resultado do exercício (DRE), e não no balanço patrimonial.
Sendo assim, ao analisar empresas como a Apple, é muito mais importante avaliar seus ativos – como o nível de caixa, contas a receber e os estoques – e seus passivos – contas a pagar e dívidas – do que seu valor contábil.
Quando analisamos empresas financeiras, as coisas são diferentes. Isso porque seus ativos (empréstimos) e seus passivos (depósitos de clientes) devem ser marcados a valor de mercado trimestralmente, tornando o valor patrimonial uma medida mais útil do que no caso passado.
Historicamente, comprar empresas financeiras de alta qualidade com desconto em relação ao seu valor patrimonial se mostrou um bom negócio, visto que o investidor basicamente adquiriu a empresa pelo seu valor de liquidação, não pagando nada a mais pela sua capacidade futura de crescimento, retorno sobre o capital superior, forte cultura e etc.
Sendo assim, o investidor deve estar ciente de que o que funcionou no passado pode não funcionar no futuro, além dos prós e contras do múltiplo.
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Fonte: Jornal Contábil
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