Muito se fala do BIM (Building Information Modeling) e o mercado de infraestrutura já tem a ciência de que este o modelo vai além da construção predial. Há incentivos de todas as partes e, principalmente, da política do Governo Federal, que traz uma agenda para que todos se apropriem da metodologia. Essas medidas já estão dando resultados no mercado, inclusive com alguns editais demandando projetos em BIM.
Porém, desenvolver um projeto por meio de processos em BIM é muito diferente de uma entrega que traz o modelo BIM projetado de forma tradicional. Infelizmente, esta distinção ainda não está bem clara no mercado de engenharia e, por isso, observamos muita confusão, perda de dinheiro e frustrações com resultados.
Infelizmente, na maioria dos editais, esse tema aparece em um parágrafo enxertado, ou seja, um apêndice ao habitual texto de uma contratação de projeto pelo processo tradicional. Em outras palavras, é um texto de projeto que não pede o processo de desenvolvimento em BIM, mas um modelo BIM.
A implicação deste formato de licitação é péssima, pois leva a um aumento de custo, não garante os benefícios do processo BIM e tampouco a integridade e a utilidade do modelo a ser entregue. Raramente há uma especificação detalhada sobre os objetivos, como um programa de requisitos ou um texto indicando o escopo de uso e sua aplicação. Diante deste cenário, talvez a única vantagem é obrigar as empresas a comprarem licenças e começarem a aprender a modelar. Porém quem ganha são os fabricantes de software e o fornecedor, mas não o contratante.
Uma contratação de projetos em BIM demanda uma mudança muito grande na forma dos contratos e de seus documentos de referência. A base deve ser a definição dos requisitos do modelo de ativos, pois é na fase de operação que o BIM mais poderá agregar valor ao dono do empreendimento. São estes requisitos do modelo de ativos que levam a definir as exigências do modelo.
Os fornecedores têm que entregar planos de execução compostos por avaliações e validações. Alguns protocolos e normas envolvendo questões de segurança, nomenclatura e orçamentação precisam ser referenciados. Além de tudo isso, o processo de medição e acompanhamento contratual muda, pois a entrega de pranchas não significa avanço dos trabalhos.
Para deixarmos de fingir que estamos trabalhando em BIM, precisamos que os responsáveis pelos contratos, dos dois lados do balcão, aprendam sobre o tema, entendam as implicações e mudem o processo de contratação. O esforço deve ser muito maior do que copiar um parágrafo em um texto antigo.
*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).
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Fonte: Jornal Contábil
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