No interior do Espírito Santo, o casal apaixonado Maria da Paz e Amadeu não pode viver uma história de amor por causa de uma guerra entre as famílias. Eles tentam se casar, mas são separados no altar pela avó da noiva, que dá um tiro no noivo. O conflito entre as famílias fica mais tenso e Maria foge para São Paulo. Vinte anos depois, se torna uma mulher rica graças a uma rede de confeitarias inspirada em receitas de família. Reconheceu a história?

Esse é o enredo da novela das 21h da Rede Globo, A Dona do Pedaço, que é estrelada por Juliana Paes (Maria da Paz) e Marcos Palmeira (Amadeu). O que nem todo mundo sabe é que a dona do pedaço existe na vida real, mas não teve uma história idêntica à da personagem.

A empreendedora que inspirou a novela é Cleusa Maria da Silva, de 53 anos, dona da franquia de bolos artesanais Sodiê Doces. A rede fatura cerca de R$ 290 milhões ao ano, tem 314 lojas pelo País e se prepara para abrir a primeira do exterior, localizada na cidade de Orlando, nos Estados Unidos. O sucesso, entretanto, é fruto de uma jornada com muitas dificuldades, superações e, principalmente, perseverança.

A verdadeira dona do pedaço

Cleusa nasceu em uma cidade pequena no interior do Paraná, onde viveu uma infância muito pobre ao lado dos pais e dos 9 irmãos. Filha e neta de boias-frias, ela conta que começou a trabalhar na lavoura aos 12 anos de idade, após o pai falecer em um acidente. Ainda criança, cortou cana, colheu algodão, capinou soja e trabalhou como empregada doméstica. A família morava em uma casa simples, com apenas dois cômodos, e só tinha macarrão, arroz e água na mesa. Nem sal o dinheiro dava para comprar.

O sonho da empreendedora sempre foi ter um futuro melhor e tirar a mãe da lavoura. Perseguindo esse objetivo, se mudou para São Paulo aos 16 anos de idade para trabalhar como arrumadeira na casa de alguns parentes. Anos mais tarde, recebeu uma proposta para trabalhar em uma empresa de alto-falantes localizada em Salto, no interior do estado, onde os avós moravam.

Descobrindo o talento de boleira

A esposa do antigo patrão vendia bolos sob encomenda, mas teve um problema de saúde que a deixou afastada da cozinha por um tempo. Para dar conta de preparar um bolo de 35 kgs, encomendado para o aniversário da sobrinha, a mulher pediu ajuda a Cleusa.

Na época, a dona da Sodiê tinha 35 anos de idade e nunca havia feito um bolo na vida, mas, com as instruções da patroa, conseguiu cumprir a tarefa. No fim das contas, a receita ficou ótima e ninguém percebeu que a confeiteira era, na verdade, uma pessoa inexperiente. A antiga patroa de Cleusa ficou impressionada com o talento dela na cozinha e insistiu para que continuasse fazendo bolos para vender. Como incentivo, comprou uma batedeira de presente à funcionária e começou a indicar clientes da cidade.

“No início, a dificuldade maior era dar conta da jornada dupla de trabalho, pois eu trabalhava na fábrica de dia e fazia os bolos a noite. É indispensável que o empreendedor coloque a mão na massa no seu negócio”, explica a dona da Sodiê.

A primeira das 314 lojas

De boia-fria a empreendedora milionária

Em 1997, a empreendedora pediu demissão da fábrica de alto-falantes e, com o dinheiro da rescisão, abriu uma lojinha de apenas 20 m² na própria cidade de Salto. O nome inicial do negócio era Sensação Doces, mas teve de ser trocado por conta de um conflito judicial com a Nestlé, que tem um chocolate com o mesmo nome. A palavra Sodiê foi ideia de uma amiga de Cleusa e representa a junção das iniciais dos dois filhos: Sofia e Diego.

Por dois anos, o dinheiro dos bolos vendidos foi suficiente para cobrir apenas os custos da loja. “Eu fazia os doces em casa e montava a vitrine pela manhã, mas muitas vezes não vendia um bolo sequer”, conta a empreendedora.

Quando o negócio começou a crescer, Cleusa tirou a mãe da vida de boia-fria e levou para trabalhar com ela. Durante os primeiros 5 anos de loja, a empresária conseguiu juntar dinheiro para abrir algumas filiais que, mais tarde, seriam parte da grande rede de franquias Sodiê Doces.

“É preciso dar um passo de cada vez prezando sempre pela qualidade do produto final, seja ele qual for”, afirma Cleusa, explicando que o desafio sempre foi conscientizar os franqueados sobre a necessidade de manter um padrão rigoroso.

Hoje, a marca está em 13 estados do País e concentra esforços para a abertura da loja de Orlando (EUA). A ideia é levar o modelo de franquia também para os Estados Unidos e, depois, seguir para a Europa. Quando questionada sobre o que considera fundamental na sua jornada, de menina pobre à empresária de sucesso, Cleusa Maria não hesita.

“Sem dúvida, a persistência e muito trabalho. Não desistir na primeira dificuldade me fez chegar até aqui. Sou uma eterna otimista, acredito no nosso País e na força do nosso povo”, afirma a dona do pedaço.

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Fonte: Jornal Contábil
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