O crédito é uma ferramenta poderosa de acesso. Graças a produtos de crédito, milhões de brasileiros podem estudar, comprar casa, abrir seus próprios negócios e, assim, mudar de vida.
Nós, que trabalhamos com modelagem de crédito e risco, sabemos disso mais do que ninguém. Então por que a gente nega o acesso ao crédito para algumas pessoas?
21% dos brasileiros tiveram crédito negado no final de 2019¹. Isso significa que dois em cada dez brasileiros não têm direito a realizar seus sonhos?
Não. Definitivamente não é isso.
Negar crédito é uma decisão difícil de ser tomada e desagradável de ser comunicada, justamente porque sabemos o que está em jogo. E por mais estranho que pareça, essa negativa, que obviamente tem como objetivo proteger o capital da empresa, não deixa de ser também uma atitude centrada no cliente.
Afinal, quem toma crédito assume uma responsabilidade no médio / longo prazo: pagar por ele.
Com base em processos cada vez mais humanizados e menos apoiados apenas em informações generalistas, como CEP e histórico financeiro do interessado, nós, do Pravaler, estamos conseguindo ampliar o acesso ao crédito estudantil no Brasil, ao mesmo tempo em que mantemos o nosso risco controlado.
Mas ainda assim, vez ou outra, é necessário dar respostas negativas.
Isso acontece porque temos consciência de que, mais prejudicial do que negar o acesso ao crédito, é concedê-lo na hora errada.
Não conseguir pagar por uma dívida pode levar a uma redução ainda maior da liberdade financeira da pessoa, acarretando em perda de qualidade de vida e da capacidade de consumo, além de prejuízo social, que vai desde a cervejinha com os amigos que precisará ser cortada até o preconceito institucional por estar com o “nome sujo”.
É realmente uma bola de neve.
Quem recusa o crédito está, de certa forma, remediando falhas de educação financeira que são tão comuns entre os brasileiros.
E é por isso – para que esse objetivo educacional se complete – que a instituição que nega o acesso ao crédito tem a obrigação de contar para o cliente o motivo da recusa, segundo o Código de Defesa do Consumidor.
Porque aí, em vez de a pessoa se sentir prejudicada, ela tem a oportunidade de entender o que aconteceu. De ver que não é uma questão fundada em preconceitos e estereótipos, mas, sim, algo situacional passível de ser revertido.
De se conscientizar de que algumas coisas precisam – e podem – ser mudadas para que ela tome o tão desejado crédito sem se endividar e consiga, enfim, usufruir dos benefícios que essa ferramenta econômica traz.
E aí, ambas as partes serão beneficiadas: o cliente, que se organizou financeiramente e conseguiu o crédito para realizar um sonho, e a instituição, que conseguiu vender seu produto / serviço para mais uma pessoa.
Eu diria que recusar crédito, portanto, é uma questão de responsabilidade social. É uma atitude de quem não se rendeu ao jogo do “lucro pelo lucro”.
É vender um serviço que obviamente vai trazer retorno financeiro à empresa e a sociedade – mas sem prejudicar o consumidor.
¹ Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito)
Sobre Carlos Toneto:
Graduado em Economia pela Unesp e mestre na mesma área pela FGV, o profissional conta com uma década de experiência em gestão de risco de crédito, tendo alcançado elevados resultados em diferentes produtos, como financiamento de veículos, crédito imobiliário e empréstimos estudantis. Além disso, possui sólidos conhecimentos em modelagem estatística, crédito, cobrança e gestão de portfólio.
Desde 2019 Carlos ocupa a posição de Gerente de Risco de Crédito do Pravaler, a maior fintech de soluções financeiras para Educação do Brasil e tem o desafio de aumentar o acesso à educação, transformando a vida de milhões de alunos e suas famílias nos próximos anos.
Nascido em Guarulhos, gosta de esportes (jogar e assistir), música, e tem como principal hobby cuidar das suas plantas.
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Fonte: Jornal Contábil
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