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Preocupante é o mínimo que se pode dizer a respeito do Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado neste dia 9 de agosto. Manchetes de veículos de mídia, do mundo todo, estamparam as conclusões alarmantes do estudo Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Os efeitos devastadores das mudanças climáticas, que já estamos vendo hoje, ficarão muito piores, nos próximos anos, em decorrência do aquecimento global.
O relatório mostra como tudo e todos serão impactados pelas alterações no clima. Ninguém estará a salvo se atitudes não foram tomadas, segundo o estudo do IPCC, para eliminar a utilização de combustíveis fósseis; para reduzir a emissão de gás carbônico e outros causadores de efeito estufa; e para proteger os ecossistemas, as florestas, o solo e os mananciais, entre outras medidas.
Em certo grau, a calamidade climática mostrada e ‘desenhada’ pelo IPCC já era conhecida. Tanto que, entre os componentes da agenda ESG (Environmental, Social and Governance), o clima tem despertado um sentido de ‘urgência urgentíssima’ em relação aos outros dois – embora os três fundamentos se entrelacem de forma indissociável.
Se por um lado os prejuízos causados por enchentes e queimadas, ao redor do mundo, não são apenas ambientais, mas também financeiros e sociais, a definição de governança está evoluindo, extrapolando o âmbito da tradicional gestão corporativa para tratar de sustentabilidade; de controle da corrupção e fraudes; e de garantia da continuidade da produção, dos negócios e dos empregos.
Com a incorporação da agenda ESG na estratégia de negócios, as empresas estão dando mostras de que querem se adaptar para atender à pressão dos mercados por negócios comprometidos com a sustentabilidade, provocando movimentos nos mercados de capitais, financeiro e produtivo. Exemplos disso são grandes investidores aportando recursos em ativos sustentáveis; o risco climático interferindo no valor dos ativos financeiros; a tendência de que bancos cobrem juros maiores de firmas que não praticam a ESG; e casos de empresas que têm prejuízos no valor de sua marca por falta de transparência e de ética nos negócios – especialmente com o greenwashing.
Um aspecto fundamental desse movimento global de adoção de práticas sustentáveis pelas empresas é a qualidade da informação que as companhias veiculam em seus relatórios contábeis e corporativos. Para atender à necessidade por maior comparabilidade nas divulgações financeiras das empresas, a Fundação IFRS – International Financial Reporting Standards – fez uma série de articulações com outras entidades, a exemplo da International Organization of Securities Commissions (Iosco) e da International Federation of Accountants (Ifac), entre outras entidades, para a criação de um comitê específico para edição de padrões internacionais de sustentabilidade. O International Sustainability Standards Board (ISSB) irá funcionar dentro da estrutura de governança da Fundação IFRS, em trabalho paralelo ao do International Accounting Standards Board (Iasb).
Espera-se que, até novembro de 2021, quando irá ocorrer a conferência sobre assuntos climáticos da ONU, a COP 26, sejam anunciados a diretoria e o início dos trabalhos do ISSB.
Atualmente, há vários modelos de relatórios de sustentabilidade sendo utilizados. Entre os mais conhecidos, no Brasil, está o Relato Integrado (RI), regulamentado pela NBC CTG 09, norma editada pelo Conselho Federal de Contabilidade em 2020. A NBC descreve a visão de longo prazo de um mundo em que o pensamento integrado está enraizado nas principais práticas de negócios dos setores público e privado e é facilitado pelo RI como padrão para relatórios corporativos.
No passado, as demonstrações contábeis e as informações corporativas não conversavam entre si, mas isso vem mudando em decorrência da demanda dos mercados. As iniciativas ambientais, sociais e de governança são cada vez mais importantes para empresas que têm visão de futuro. O planeta agradece, e as gerações futuras também.
Por Zulmir Breda, presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
Fonte: Contábeis
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