O Brasil registrou o maior patamar de dívidas com cartão de crédito em oito anos, refletindo a dificuldade da população em se manter adimplente em um cenário de inflação elevada, renda comprimida e busca por emprego.
O chamado “rotativo”, acionado quando o consumidor não paga a fatura completa do cartão até o vencimento, registrou R$ 159,3 bilhões em novos empréstimos nos seis primeiros meses do ano.
De acordo com o Banco Central, esse é o maior nível para o período desde 2014 –quando foram concedidos R$ 174,7 bilhões (na série atualizada pela inflação).
Tanto o BC quanto especialistas em finanças recomendam que o cartão de crédito rotativo seja usado apenas emergencialmente e por períodos muito curtos. Com taxas de juros elevadas, essa é a linha de crédito mais cara do mercado.
Em junho, os juros do rotativo atingiram 370,4% ao ano. No acumulado em 12 meses, o aumento da taxa média foi de 41,3 pontos percentuais –bem acima da escalada da taxa básica (Selic) , que saiu da mínima histórica de 2% em 2021 até o atual patamar de 13,75% ao ano.
Nem o aumento dos juros tem freado novos empréstimos nessa modalidade, diferentemente de outros períodos. Ao menos agora a população não fica indefinidamente no rotativo.
Desde abril de 2017, os bancos são obrigados a transferir após um mês a dívida do rotativo para uma linha de crédito parcelado, que tem taxas mais baixas.
Especialistas destacam que a mudança da norma atenuou o efeito “bola de neve”, mas que ninguém deve ter como objetivo buscar o crédito parcelado porque os juros –embora mais baixos que o do rotativo– também são altos.
Em junho, a taxa média total nessa modalidade ficou em 173,2% ao ano.
O BC alertou na ata da última reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), divulgada na quinta-feira (8), que o crescimento do crédito em modalidades com maiores riscos indica uma tendência de aumento da inadimplência, ainda que dentro de padrões históricos.
“No caso das famílias, o aumento de ativos problemáticos tem superado o crescimento da carteira de crédito. Essa tendência deverá permanecer com o crescimento do crédito em modalidades mais arriscadas”, escreveu a autoridade monetária em nota.
De acordo com o coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, a perda de poder de compra frente à inflação elevada é um dos fatores para o aumento da inadimplência.
“Durante o período da pandemia, muitas famílias passaram por dificuldades, algumas pessoas perderam emprego, o que também pressiona a economia doméstica”, acrescentou.
O especialista descreve que muitas dívidas são contraídas quando há o empréstimo do crédito para amigos e familiares que estão passando por dificuldades financeiras. “Mesmo que essa pessoa venha a pagar os juros depois, é o titular do cartão que está usando o rotativo”, disse.
No caso das famílias de classe média, Teixeira cita o aumento das despesas devido ao “novo normal”.
Segundo ele, com o home office e o trabalho em formato híbrido, as famílias tiveram maiores gastos com alimentação no domicílio e equipamentos, e ainda viram a fatura da energia elétrica subir.
As contas domésticas ficaram ainda mais pressionadas nos lares com crianças e adolescentes, que passaram a ter aulas por meio de plataformas digitais.
A diretora da Serasa eCred, Amanda Rapouzo, destaca que “uma das maiores dívidas do brasileiro é com cartão de crédito”. Quanto ao perfil de pessoas com nome negativado, diz que a maior parcela é composta por jovens de 25 a 35 anos, com renda de um a dois salários mínimos, e gasto médio de R$ 3.000.
Segundo Rapouzo, as melhores alternativas para fugir da linha de crédito mais cara do mercado são os empréstimos com garantia ou empréstimo com antecipação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) .
Fonte: com informações da Folha de S.Paulo
Fonte: Contábeis
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