Nos últimos anos, o termo ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança) se consolidou como uma das principais tendências no mundo dos negócios. Mas será que o mundo do ESG está acessível às pequenas empresas? Em seu artigo, publicado no livro “ A Virada – Como Reinventar Seu Negócio Em Tempos de Incerteza”, o assessor da Diretoria Técnica do Sebrae Nacional, Gustavo Cezário, afirma que sim. Segundo ele, ao integrarem cadeias de valor, as pequenas empresas devem buscar essas práticas de gestão que as tornam mais competitivas, inovadoras e sustentáveis.
“A aplicação de uma gestão ESG pelas pequenas empresas não é simples, exige tempo e energia para adaptação de inúmeros processos, assim como o compromisso com o aprendizado e a melhoria contínua. O desafio é equilibrar a busca de valor no longo prazo com a adoção de práticas, sem inviabilizar os lucros de curto prazo”, afirma Cezário na publicação.
O livro “A Virada” foi recém-lançado no Brasil e em Portugal, pela editora Lisbon Internacional Press, sob coordenação do assessor da presidência do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae, André Spínola. O prefácio do livro é assinado por Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza.
Como um dos coautores da obra, Cezário traz uma perspectiva histórica da agenda ESG e apresenta iniciativas que têm contribuído para que micro e pequenas empresas (MPE) também sejam protagonistas nesse cenário, como é o caso do Programa Nacional de Encadeamento Produtivo do Sebrae, em parceria com grandes e médias empresas.
Para explorar o tema ESG na perspectiva dos pequenos negócios, a Agência Sebrae de Notícias (ASN) conversou com Gustavo Cezário que é especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Confira abaixo a entrevista:
ASN – Quais são os benefícios que a adoção de práticas ESG pode trazer para os pequenos negócios?
Gustavo Cezário – A incorporação de práticas ESG significa uma passagem para o novo modelo de desenvolvimento econômico, com maior eficiência e produtividade, capacidade de atrair e reter talentos, facilidade para financiamento, aumentar a reputação e fidelizar clientes, reduzir riscos e intervenções regulatórias, acessar novos mercados. O processo de diferenciação das pequenas empresas para atuar em parceria com médias e grandes empresas passa pela adoção dessas práticas. Identificar nichos a se especializarem, aumentar suas competências em termos de produto, processo e gestão, e se preparar para níveis de exigências maiores na cadeia de valor são ações importantes para assegurar ou mesmo ampliar seu mercado.
ASN – Poderia dar exemplos de boas práticas/ações que podem ser incorporadas à gestão dos pequenos negócios relacionadas ao ESG?
Gustavo Cezário – No livro cito alguns exemplos e aqui dou destaque à preocupação com a destinação correta dos resíduos, com a exigência de plano de resíduos sólidos pelas pequenas empresas para obter o alvará de funcionamento. A primeira letra (E) indica as práticas relacionadas ao impacto ambiental. A base para estruturar ações nesta dimensão é avaliar em que medida o seu negócio corrobora com a preservação de recursos naturais e respeita a capacidade da natureza se regenerar. No Brasil, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos aborda a destinação adequada a qualquer tipo de substrato final de uma operação, chamando a responsabilidade compartilhada de todos para que esses materiais voltem ao setor empresarial para reaproveitamento, dentro da lógica da economia circular. No âmbito das mudanças climáticas, reduzir a emissão de gases de efeito estufa ou zerar a cadeia de carbono no longo prazo parece ser coisa para grandes empresas. Todavia, os pequenos negócios podem compreender quais são suas contribuições para a mitigação desse impacto em suas atividades.
ASN – Podemos afirmar que os negócios de impacto estão mais preparados para responder aos desafios impostos por um mundo mais consciente? Eles são os negócios do futuro?
Gustavo Cezário – Negócios de impacto social já nascem com este compromisso de impactar positivamente o mundo e tendem a crescer mais rápido do que os demais. Porém, ações no social voltados à comunidade, à diversidade, ao direito do trabalhados sem incorporar questões como mudança climática, poluição, integridade e transparência podem ameaçar a perenidade destas empresas. O principal dos negócios de impacto é como operar, gerar e comunicar valor às partes interessadas. Diálogo e engajamento social criam oportunidades de relações mais próximas com as organizações, buscando o impacto em todos os pontos de contato, com vistas a uma interação com a sociedade como todo. Por isto, um plano de comunicação interno e externo deve ser capaz de fortalecer o elo de usuários, clientes, trabalhadores, fornecedores, parceiros com o propósito da empresa.
Fonte: SEBRAE
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