Um novo estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP), aponta que trabalhar em horários irregulares e por longas horas aumenta o risco de obesidade e sobrepeso.
Por essa razão o estudo aponta os profissionais de saúde como um grupo de grande risco para a obsidade.
Enfermeiros, que constituem a maior parte dos profissionais de saúde, são particularmente afetados pelas consequências negativas do trabalho em turnos noturnos ou em escalas rotativas de 12 horas.
Segundo a pesquisa, os elementos que contribuem para essa condição incluem a privação do sono, o sedentarismo e a má alimentação.
Maria Gabriela Tavares Amaro, autora da pesquisa de iniciação científica e aluna do curso de medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, explica ao Jornal da USP que a privação ou a falta de rotina do sono a que esses profissionais são submetidos pode levar à disfunção do ciclo circadiano, que é a desregulação do ritmo em que o organismo realiza suas funções ao longo do dia.
Ela explica que, ao amanhecer, a claridade estimula a liberação do cortisol, hormônio que nos mantém despertos, enquanto que ao anoitecer, o escuro induz a produção da melatonina, que nos leva ao sono e ao relaxamento.
Obesidade
Dados da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) mostram que a ocorrência da obesidade no Brasil aumentou cerca de 72% nos últimos treze anos, passando de 11,8% em 2006 para 20% em 2019.
Estima-se que, em todo o mundo, em 2025, haverá 2,3 bilhões de adultos com excesso de peso, dos quais 700 milhões serão obesos, com um IMC acima de 30.
O professor do curso de medicina da FOB e orientador da pesquisa, Carlos Antonio Negrato, um médico endocrinologista, explica que a obesidade é um problema de saúde pública grave e multifatorial, envolvendo aspectos genéticos, metabólicos, sociais, psicológicos e ambientais.
Indivíduos com um Índice de Massa Corporal (IMC) elevado (igual ou superior a 25 para sobrepeso e igual ou superior a 30 para obesidade) têm maior probabilidade de desenvolver comorbidades.
O IMC é calculado dividindo o peso da pessoa (em quilos) pela altura (em metros) ao quadrado.
Negrato enfatiza que a pesquisa revisional procurou identificar um dos possíveis fatores ambientais que contribuem para o desenvolvimento da obesidade.
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Metabolismo desequilibrado
A pesquisa sobre os efeitos do trabalho noturno e em escala rotativa na saúde dos profissionais da área da saúde foi conduzida a partir de uma revisão de literatura de artigos científicos sobre o tema.
Conforme a pesquisa, os mecanismos que conectam o trabalho em turnos com a obesidade ainda não são completamente compreendidos.
Entretanto, as mudanças comportamentais decorrentes desse tipo de trabalho, tais como privação de sono, falta de atividade física, exposição à luz artificial, horários irregulares para as refeições, desalinhamento do ciclo circadiano e outros hábitos não saudáveis, estão relacionadas a um desequilíbrio metabólico que pode resultar em aumento de peso e obesidade.
Maria Gabriela destaca a importância da conscientização das empresas e dos profissionais sobre os riscos à saúde associados ao trabalho por turnos.
A partir desse conhecimento, é possível pensar em medidas que ajudem a minimizar os impactos negativos do desequilíbrio metabólico, como programas de cuidados com a saúde e a promoção de atividades físicas e reeducação alimentar.
Isso pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos profissionais da área da saúde e, consequentemente, para o melhor desempenho das suas funções no ambiente de trabalho.
Hormônios da saciedade e da fome
Longos períodos de vigília ou trabalho em turnos podem afetar o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófisário, de acordo com o professor Negrato.
A privação de sono afeta a regulação dos hormônios de fome e saciedade, leptina e grelina, levando a uma maior ingestão de alimentos, principalmente ultraprocessados, e menor atividade física, além de um aumento do estresse.
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Fonte: Jornal Contábil
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