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Natural de Araxá, no Alto Paranaíba, Romeu Zema Neto, de 52 anos, será o candidato do Partido Novo ao governo do estado. Ele é presidente do conselho do Grupo Zema, do qual deixou a função de CEO há pouco menos de um ano. A empresa de 95 anos atua de maneira mais intensa no setor de varejo de eletrodomésticos, presente em cerca de 460 cidades mineiras, e na distribuição de combustíveis. Neste ano, a previsão é de que o grupo fature 4,5 bilhões de reais. Ao deixar o cargo de executivo da empresa, em 2016, conseguiu mais tempo para pensar no país.”Talvez eu tenha sido omisso ou ausente nesse tempo todo”, diz. Recebeu bem o convite do  Novo, agremiação fundada em 2011 e que se apresenta como alternativa aos demais partidos políticos. O Novo é contra coligações, não usa recursos do Fundo Partidário e não permite a reeleição mais de uma vez para o mesmo cargo. Para se candidatar, o pretendente tem de ser aprovado em um processo seletivo. O partido defende ainda menor atuação do Estado. Atualmente, em Minas, cerca de 1,1 mil filiados contribuem mensalmente com o valor de 28,23 reais para manter o Novo. No Facebook, quase 1,4 milhão pessoas curtiu a página oficial, número maior que de partidos tradicionais como PT e PSDB.

Quem é: Romeu Zema Neto, 52 anos
Origem: Araxá (MG)
Formação: formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo
Carreira: pré-candidato pelo Partido Novo para concorrer ao cargo de governador do estado. É atual presidente do conselho do Grupo Zema. Foi o CEO do grupo de 1990 a 2016

Como começou a sua história com o Grupo Zema?
ROMEU ZEMA – Sou a quarta geração da empresa. Foi nos anos 1990 que comecei a participar de maneira mais ativa. Meu pai mexia com concessionárias de veículos, mas vi que tínhamos oportunidades melhores do que essa. Sempre preferi o varejo, pois tinha mais liberdade. Aí ele comprou uma concessionária da GM, que era detentora também de uma antiga marca de eletrodomésticos, a Frigidaire. O proprietário da concessionária impôs ao meu pai que só venderia a loja de carros com a outra junto. Eu brinco que ele comprou a casa com o cachorro. Acontece que o cachorro acabou ficando mais valioso que a casa. Começamos abrindo lojas no entorno de Araxá. Hoje estamos com 460 unidades em Minas. Só não estamos em cidades grandes, pois nosso foco são municípios de 20 mil a 50 mil habitantes.

Mas, hoje, a maior parte do faturamento do grupo não vem do varejo, não é mesmo?

Não. Dos 4,5 bilhões de reais que devemos faturar em 2017, algo como 3 bilhões devem vir da distribuição de combustíveis. Cerca de 1,4 bilhão virá das lojas Eletrozema e o restante, de negócios variados.

Por que deixou a presidência do grupo, que completa 95 anos em 2018?
Queria deixar a empresa em 2014, mas, devido à crise econômica, decidi permanecer. Eu estava muito sobrecarregado, pois não conseguia delegar. Não tinha tempo nem de ir ao banheiro. Ao mesmo tempo, já tinha um sonho de fazer a primeira sucessão planejada na empresa. Não queria que o nosso grupo dependesse de família a vida toda. Então, há 10 meses deixei a presidência e passei a olhar para o futuro. E o mais interessante é que o meu sucessor é o Cesar Donizeti Chaves, que começou na empresa como frentista. Há quatro meses, recebi o contato do Partido Novo, que estava procurando nomes para disputarem o governo do estado.

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O que o fez aceitar o convite?
Nunca pensei em entrar para a política. Nunca doei um real para candidatos nem partidos. Nunca subi a palanques. Tinha o foco apenas de tocar a empresa, que já não era coisa fácil. E diante dessa turbulência econômica e política comecei a refletir. Cheguei à conclusão de que talvez eu tenha sido omisso ou ausente nesse tempo todo. Talvez eu e grande parte do empresariado tenhamos culpa no cartório sobre a situação atual. Nós, empresários, deixamos a coisa rolar à vontade.

Por que pleitear o cargo de governador do estado?
Já estou com 52 anos. Se eu não contribuir agora, talvez fique tarde demais. Se eu consegui fazer uma coisa boa para mim e minha família, por que não fazer algo para o meu estado? É um mato que eu nunca lenhei. Não deixa de assustar, pois está sendo tudo uma grande novidade para mim. Mas o que temos assistido na TV tem contribuído bastante para aumentar essa minha vontade.

Um desafio é fazer o Partido Novo mais conhecido por grande parte da população?
Sinto-me também no dever de contribuir com o partido. Tenho noção de que a minha chance é pequena, mas estamos propondo uma ideia completamente oposta do que vemos na política. Podemos trazer um número maior de deputados estaduais e federais, além de divulgar as práticas do partido.

O Partido Novo é muito presente nas redes sociais…
Sim. Estamos vivendo numa época em que as campanhas políticas não dependem tanto de recursos como antes. Precisamos fazer uma boa divulgação nas redes sociais mesmo. Nesse ambiente é possível mostrar as nossas ideias de maneira transparente e consistente.

Há exemplos de candidaturas que começaram tímidas e conseguiram uma virada. É o caso dos prefeitos Alexandre Kalil, em BH, e do João Dória, em São Paulo. Acredita que pode ser uma vantagem não ser tão conhecido?
Acredito que sim. Trazemos uma ideologia nova, e isso é muito positivo. Sabemos que há muitas pessoas que desejam candidatos com a característica de ser desconhecido e não fazer parte de uma carreira política tradicional.

E o que mais lhe chamou a atenção no Partido Novo?
Ele não depende de recursos públicos, ou seja, não faz uso do Fundo Partidário. Portanto, se o trabalho for benfeito, os filiados vão contribuir naturalmente. É como acontece com os clubes de futebol. O único partido com possibilidade de mudança é o Novo. Temos de acabar é com esse circulo vicioso. Cortar essa situação que acontece há tempos por aqui. Isso me deixa indignado.

Que círculo vicioso?
Há pessoas que estão há 40 ou  50 anos numa carreira política. E essa carreira vai passando para os filhos. Sou favorável à renovação, tanto que fiz isso na minha empresa. Meu tempo havia se esgotado e eu queria ver uma cara nova lá dentro. Não sou político de carreira. Eu quero é contribuir e espero que os outros empresários façam o mesmo. As pessoas deveriam entrar na vida pública para contribuir, e não usurpar, que é o que estamos vendo. Portanto, quero abrir o caminho para que outros também possam entrar. Se eu entrar e conseguir mudar as coisas, já me darei por satisfeito.

Quais seriam as suas credenciais para concorrer ao cargo de governador?
Um nome sem o histórico da velha política já é uma coisa interessante. Sempre fui disciplinado e gosto das coisas benfeitas. Se não fosse por isso, nunca conseguiríamos prosperar enquanto empresa. Em relação aos outros candidatos, não me considero menos preparado. Posso, inclusive, contribuir mais do que eles.

O que diria de seus possíveis concorrentes no pleito do próximo ano?
Conheço o Marcio Lacerda, que é extremamente competente, mas no restante eu coloco um ponto de interrogação. Não sabemos ainda quais serão os outros candidatos. Mas sabemos que deve haver uma grande renovação nos quadros estaduais e federais, pois há uma insatisfação generalizada, como nunca se viu. Então, mais do que contribuir com uma gestão, quero divulgar as ideias do partido. Tentar acabar com esse ranço que existe no país de troca de favores.

O que aprendeu como empresário que pode ajudá-lo a governar o estado?
Conheço mais de 500 municípios mineiros. Só no estado, o Grupo Zema tem 309, lojas e a maioria delas foi eu quem abriu. Durante a minha vida também tive de negociar com bancos, fornecedores e sindicatos. Mas acho que negociar com políticos vai ser pior (risos).

Mas vir de Araxá para o Palácio das Mangabeiras será uma mudança e tanto…

Está aí uma coisa que poderíamos mexer. Se eleito, preferiria morar em um apartamento pequeno a um palácio.

Enquanto empresário, você já foi achacado por algum político ou deparou com alguma situação ligada a essa velha política?
Não. Mas sempre tivemos questões com as licenças ambientais. Temos um posto na BR-262 que há dois anos está fechado. Ninguém teve boa vontade de fazer uma vistoria. Gastamos algo como 15 milhões de reais ali. Se tivéssemos optado pelo caminho do suborno, certamente já teríamos resolvido. E há ainda essa complexidade tributária. O país é inóspito para empreender.

Que sentimento teve ao ver a cena das malas com mais de 51 milhões de reais em um apartamento na Bahia (atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima)?
Sou tão brasileiro como vocês. O sentimento foi de muita indignação. Pagamos milhões de reais em impostos. Aí o funcionário nos pede um reajuste pequeno e não temos condições de dar. É nesse momento que vemos para onde vai todo o dinheiro. Então, se eu ficar só reclamando, vou conseguir mudar alguma coisa? Temos é de arregaçar as mangas e começar a trabalhar para a mudança.

Muito se falou sobre os leilões de hidrelétricas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O senhor foi a favor?
Sou a favor de o estado se ater apenas à educação, saúde e segurança. Sou favorável às privatizações. Não só as usinas da Cemig tinham de ser privatizadas, mas a empresa inteira. Políticos querem que empresas como Cemig e Petrobras, por exemplo, continuem sendo controladas pelo Estado para servir como espaço para loteamento de cargos, cabide de empregos e de esquemas. Por isso elas têm de ser privatizadas. E, se começar a faturar mais, que se aumente o ICMS para impulsionar a arrecadação do estado. A privatização da Telemig é um exemplo de sucesso que tivemos por aqui.

O Partido Novo não faz coligações partidárias. Em um cenário tendo você como governador, como lidaria com a Assembleia Legislativa?

Um governador eleito com a proposta do Partido Novo pode chegar com muita força, pois teria o apoio popular. Pode ter uma força até maior que a dos partidos convencionais. Nossa proposta é muito diferente. É claro que teremos pela frente muitas negociações e trabalho, mas a verdade é que, com o apoio do voto, os parlamentares da velha política terão de ceder.

Fonte: Revista Encontro

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Fonte: jc