Nos últimos 3 anos, empréstimos a pequenos empreendedores tiveram alta de 45%, mas falta de preparo para lidar com as questões financeiras pode gerar problemas futuros
O forte crescimento do microcrédito produtivo aliado ao aumento do número de empreendedores informais e à falta de conhecimento financeiro pode gerar um problema ao sonho daqueles que desejam ter seu próprio negócio: o endividamento. Nos últimos 3 anos, até dezembro de 2023, os empréstimos liberados subiram 45% e, de dezembro de 2019 até o final do ano passado, o valor médio dos empréstimos solicitados registrou um ganho real de 16,79%. Em outras palavras, enquanto os empréstimos requeridos cresceram 50,4%, a inflação acumulada no período, segundo o IPCA, somou 28,78%. Os dados são do Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (Ceape Brasil).
Parte do incremento da demanda por crédito se deve ao apetite do brasileiro em empreender. De acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae e Anegepe, o país conta com pelo menos 42 milhões de empreendedores e o número pode mais que dobrar nos próximos 3 anos diante da quantidade de pessoas que afirmam querer ser donas do próprio negócio. A informalidade ainda é a realidade para a maioria. Basta equiparar o dado do Sebrae ao número de MEIs cadastrados no país, que soma cerca de 13 milhões e de PMEs, estimado em 6,5 milhões.
Segundo Claudia Cisneiros, diretora executiva do Ceape Brasil, a demanda por crédito é crescente e o valor médio dos empréstimos só não registra um incremento maior por conta do conservadorismo das próprias instituições financeiras. “Buscamos evitar conceder empréstimos muito elevados e fazer com que a pessoa fique cada vez mais endividada, até porque muitos estão na informalidade e têm dificuldades em lidar com as finanças”, afirma.
Programa Acredita
O Governo lançou recentemente o Programa Acredita, iniciativa que conta com medidas de crédito e renegociação de dívidas para MEIs e micro e pequenas empresas. O programa também estabelece uma política de microcrédito produtivo orientado para pessoas inscritas no CadÚnico que empreendem ou querem empreender.
Mas os especialistas alertam que este tipo de iniciativa só terá resultados se estiver alinhada a um programa de educação financeira. Além disso, com o posicionamento do Bacen de frear a redução da Selic, as taxas de juros continuam sendo um impeditivo. O economista e conselheiro do Corecon-SP, André Paiva Ramos, avalia a estratégia pode ter impacto no curto prazo, mas o crescimento econômico sustentável do país depende de uma política de juros menos restritiva e de um menor risco fiscal.
A taxa de juros é o que mais pesa na hora de pegar empréstimos, segundo 58,7% dos microempreendedores ouvidos pela pesquisa de Educação Financeira realizada pelo Ceape Brasil.
Educação financeira como foco
Para Claudia Cisneiros, a educação financeira deve ser o foco das instituições que atuam na concessão de microcrédito. Para impulsionar os novos negócios, o Ceape Brasil lançou, em janeiro deste ano, o Projeto 13º Empreendedor que, em apenas 3 meses, ajudou 956 microempreendedores brasileiros, através de consultorias gratuitas que envolvem temas sobre como potencializar as vendas pela Internet, aprimorar o atendimento ao cliente e otimizar o fluxo de caixa. Esta foi apenas a primeira etapa do projeto que, até o final deste ano, pretende impactar cerca de 3.600 pequenos negócios.
“Nossa meta é realizar, em média, cerca de 300 consultorias por mês, e estamos contentes com os números alcançados logo no início. Temos muita convicção de que este trabalho cuidadoso, planejado para orientar os clientes através de um atendimento personalizado, irá fornecer todo o conhecimento necessário para melhorar os resultados de cada um deles”, afirma Claudia.
Presente no Maranhão, Ceará, Pará, Tocantins e São Paulo, o Ceape Brasil conta com 21 mil clientes ativos, ou seja, com empréstimos em andamento. A instituição é especializada na concessão de microcrédito produtivo, que une empréstimo à educação financeira dos tomadores e já concedeu mais de R$2,5 bilhões em crédito, beneficiando cerca de 1,5 milhão de empreendedores, principalmente na região Nordeste.
por Compliance Comunicação
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