Conceder crédito com base em renda presumida é assumir prejuízo

Já se passaram 16 anos desde a crise do subprime, nos Estados Unidos, que derrubou bolsas de valores e quebrou tanto empresas americanas quanto em diversos países mundo afora. Apesar de tanto tempo, muito do que acontece até hoje ainda está ligado aos fatos de 2008. Na época, o mundo praticamente derreteu. Nos EUA, da noite para o dia, entre 30 e 40 milhões de americanos foram convidados pelos bancos tradicionais a encerrarem suas contas de crédito. 

Para o modelo predominante por lá, baseado no histórico de pagamento do cliente, todas essas pessoas estavam insolventes e não podiam comprar nada financiado, ou mesmo gerenciar seu dia-a-dia com os cartões de crédito. Pois bem, se não há dívida, não há histórico de pagamento. O ovo ou a galinha? O certo é que o credit score desses milhões de pessoas derreteu do dia para a noite. 

Foi como se as vidas delas tivessem sido interrompidas, mas fora esses modelos ultrapassados, a realidade é que a vida seguiu. Porém, tais americanos continuaram pagando aluguel, despesas de escola, conta de luz, conta de água etc. Ao longo do tempo, essa percepção foi sendo capturada pelos sistemas de empresas de todos os tipos por meio de suas diversas contas bancárias e folhas de pagamentos, mas não exatamente nos bureaus de crédito, evidenciando como aqueles modelos se tornaram obsoletos. 

Esta situação ilustra como milhões de clientes pessoas físicas, sem falar de bancos, financeiras e outras companhias que atuam no ramo perderam e ainda perdem milhões de oportunidades de negócios por não contarem com as informações reais dos consumidores que estão enfrentando dificuldades financeiras momentâneas ou aqueles que são “excluídos” do sistema.

Assim como os subprimes, as avaliações baseadas em renda presumida dos bureaus de crédito tradicionais no Brasil excluem muitos consumidores do mercado de crédito, desperdiçando oportunidades. Para ter uma ideia do quanto a indústria de crédito está deixando passar bons negócios por não observar a renda real deste público, basta observar a última edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE. De acordo com o estudo, os trabalhadores por conta própria e empregados sem carteira assinada apresentaram crescimento interanual da renda acima de 7,9%, enquanto os trabalhadores privados com carteira registrada mostraram crescimento de apenas 4,4% no mesmo indicador.

Neste público estão inseridos os motoristas de Uber, iFood, 99, revendedoras Natura e Avon, além de outros trabalhadores que estão fora dos radares tradicionais. Esses profissionais são invisíveis para o sistema financeiro e isso representa milhões de reais em concessões de crédito perdidas.

Essa imperfeição é confortável para os bureaus, que continuam vendendo a informação da renda presumida para todos os grandes bancos. Mas isso está bem perto do fim. Afinal, o mercado está a cada dia percebendo que não faz sentido comprar modelo de renda presumida se já é possível contar com a informação da renda real do cliente. 

A tecnologia baseada em dados alternativos estruturados e não estruturados, aliada à regulamentação que vem caminhando a passos largos para apoiar o mercado, vai ajudar a minimizar essas imperfeições. Através do dado permissionado, o cliente pode dar acesso a instituição financeira para que ela tenha visibilidade da sua renda exata, como no eSocial, por exemplo, além de todo o histórico constante na carteira de trabalho. É uma questão de conscientizar o cliente a utilizar os seus dados proprietários em benefício de uma melhor decisão de crédito e de um produto mais adequado a sua realidade. A única certeza nisso tudo é que a concessão de crédito no Brasil está a um passo de mudar de patamar, após décadas de ineficiência.

*Artigo escrito por Gustavo Simões é sócio e CTO da OneBlinc 

por Compliance Comunicação

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Fonte: PORTAL CONTNEWS
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