Projeto Analytics: A Inteligência Artificial da Receita Federal que monitora Contadores e Advogados

A Receita Federal do Brasil (RFB) está implementando uma das tecnologias mais avançadas de combate à fraude tributária da história do país: o Projeto Analytics. A iniciativa usa Inteligência Artificial (IA), big data e análise de redes complexas para identificar empresas de fachada, esquemas de “laranjas”, fraudes contábeis e movimentações suspeitas que envolvem empresários, contadores, advogados e até operadores financeiros.

O Que é o Projeto Analytics

O Projeto Analytics é uma plataforma de alta tecnologia desenvolvida pela área de tecnologia da Receita Federal, voltada para o cruzamento massivo de dados fiscais, financeiros e cadastrais. O sistema reúne milhões de informações de declarações de imposto de renda, notas fiscais eletrônicas, movimentações bancárias, registros societários, operações com criptomoedas, importações e exportações, entre outras fontes oficiais.

Com base em modelos de machine learning e inteligência artificial, o sistema analisa padrões e relacionamentos entre pessoas e empresas, detectando comportamentos anormais ou incoerentes com o perfil econômico declarado.

IA e Big Data a Serviço da Fiscalização

Segundo a Receita Federal, o sistema combina o poder de análise preditiva, aprendizado de máquina (machine learning) e visualização de redes para mapear estruturas empresariais suspeitas.

Isso significa que a IA consegue identificar grupos econômicos ocultos, empresas “noteiras”, CNPJs fantasmas e pessoas físicas usadas como “laranjas” em esquemas de sonegação ou lavagem de dinheiro.

Por exemplo, quando uma mesma pessoa aparece como sócia em dezenas de empresas com endereços semelhantes, ou quando há movimentações incompatíveis com o CNAE declarado, o sistema acende um alerta automático de risco.

Análise de Redes: Como a Receita Enxerga as Conexões Ocult

Uma das tecnologias mais poderosas do Projeto Analytics é o graph analytics — ou análise de grafos — que permite visualizar como pessoas, empresas e transações estão conectadas entre si.

A partir desses dados, a Receita Federal consegue montar “mapas de relacionamentos” que revelam quem realmente está por trás das empresas de fachada, quais grupos de contadores e advogados estão intermediando operações, e como o dinheiro circula entre CNPJs e CPFs.

Com essa abordagem, a Receita deixa de olhar cada empresa isoladamente e passa a enxergar redes inteiras de fraude.

Como o Sistema Detecta Empresas de Fachada

O Projeto Analytics identifica padrões atípicos de comportamento empresarial e tributário, como:

  • Faturamento muito acima ou abaixo da média do setor.
  • Repetição de endereços e sócios em várias empresas.
  • Divergência entre o CNAE e o volume de operações.
  • Emissão de notas fiscais sem correspondência com a operação real.
  • Movimentações financeiras incompatíveis com a estrutura declarada.
  • Transações recorrentes entre empresas de um mesmo grupo “oculto”.
  • Uso de criptomoedas para mascarar a origem dos recursos.

Quando o sistema identifica um “nó suspeito” (pessoa ou empresa), ele calcula um índice de risco fiscal, que é encaminhado para as equipes de auditoria da Receita Federal. Isso permite que os auditores priorizem casos com maior probabilidade de irregularidades.

Contadores e Advogados Também Sob Análise

O Projeto Analytics não se limita às empresas e sócios. Ele também monitora o comportamento de profissionais e prestadores de serviços envolvidos nas operações, como contadores, advogados e consultores tributários.

Quando um mesmo contador assina dezenas de empresas suspeitas ou quando um advogado está envolvido em estruturações jurídicas repetitivas e questionáveis, o sistema registra esse padrão como potencial indicativo de cumplicidade.

A Receita Federal afirma que o objetivo não é criminalizar profissionais, mas identificar redes organizadas de fraude e instrumentalização indevida da atividade contábil e jurídica.

Resultados Já Obtidos com o Projeto Analytics

Em 2024, a Receita Federal divulgou que o sistema ajudou a detectar mais de R$ 1 bilhão em fraudes e inconsistências tributárias apenas nos primeiros testes.
Os casos envolvem empresas de fachada, uso de “laranjas” e até movimentações suspeitas com criptomoedas.

Em uma operação específica, o sistema identificou R$ 350 milhões em notas fiscais frias e R$ 700 milhões em transações cripto que estavam sendo usadas para lavar dinheiro e reduzir artificialmente a carga tributária.

Legalidade e Proteção de Dados

A Receita Federal enfatiza que o uso da inteligência artificial está amparado por lei. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não impede o uso de dados públicos e fiscais quando o tratamento é feito para fins de fiscalização e controle tributário.

Além disso, a Receita afirma que o sistema segue protocolos rígidos de sigilo fiscal e uso ético de IA, sem decisões automatizadas punitivas — a IA apenas indica os casos, e a análise final é feita por auditores humanos.

Foco na Conformidade Voluntária

Um dos objetivos centrais do Projeto Analytics é aumentar a conformidade voluntária dos contribuintes.
Empresas e profissionais que recebem alertas podem corrigir inconsistências antes de sofrer autuações, o que muda a lógica da fiscalização — de reativa para preventiva.

A Receita pretende expandir o uso do sistema para CNAEs de risco, setores sensíveis, e operações de importação/exportação, tornando o Brasil uma referência mundial em uso de IA na arrecadação e combate à sonegação.

🚨 Impacto para o Mercado e para os Profissionais

Com o avanço do Projeto Analytics, as empresas e escritórios contábeis e jurídicos precisam reforçar sua transparência.
Estruturas societárias frágeis, manipulação de dados contábeis, e estratégias que visam ocultar o verdadeiro beneficiário econômico tendem a ser rapidamente detectadas.

O recado da Receita Federal é claro: a era da opacidade fiscal está acabando.
Com o uso de IA e cruzamento inteligente de dados, as “empresas de fachada” e “pessoas laranjas” estão com os dias contados.


Resumo

O Projeto Analytics marca um divisor de águas na história tributária brasileira.
Ele representa a transição de um modelo de fiscalização manual e amostral para um modelo científico, inteligente e em tempo real, onde a tecnologia antecipa o comportamento irregular e protege o sistema econômico de fraudes bilionárias.

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